João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
O PAÍS, DE NORTE A SUL, viveu em estado de choque, a leitura da decisão instrutória da Operação Marquês pelo juiz Ivo Rosa, do Tribunal Central de Instrução Criminal que, por variadas razões, deixa cair 25 das 31 acusações que impendiam sobre José Sócrates. E desde logo se fez nascer um novo vilão no imaginário popular e político do país. Ivo Rosa, juiz de quem logo os medias foram vasculhar o armário dos falhanços profissionais, foi publicamente linchado nas redes sociais por turbas furiosas. E não só nas redes sociais mas também em algumas estações de televisão e alguns jornais. Não contesto o legítimo e saudável direito à critica sem tabus, mas os termos em que foi feito, com a fúria que retira lucidez e alimenta populismos. E há o abaixo assinado já subscrito por mais de cinquenta mil portugueses, a apresentar ao Parlamento a pedir o afastamento do juiz. Subscrito por quem não sabe que a separação de poderes é a base fundamental de um regime democrático? Sejamos claros, creio que muitos poucos ainda acreditam na inocência do ex-primeiro ministro. Independentemente de terem caído as acusações de corrupção em negócios do BES, da PT ou de Vale de Lobos por onde circularam muitos milhões suspeitos, mas acusações que na interpretação de Ivo Rosa, em alguns casos, não estavam bem fundamentadas e sem provas diretas ou já prescritas, pondo assim em causa de forma clamorosa e em termos qualificativos pouco habituais, a qualidade do trabalho dos procuradores do Ministério Público. E é este juiz a quem chamam o juiz dos direitos e das garantias, como se isso fosse algo negativo, que leva a julgamento um antigo primeiro ministro, convicto de ele ter mercandejado as suas funções para receber benefícios, uma acusação bastante grave de branqueamento de capitais e que tem uma moldura penal de prisão até 12 anos. Sejamos claros, aconteça o que acontecer José Sócrates já está moral e politicamente morto. Fosse por 30 milhões ou por um milhão e meio. E Ivo Rosa não pode ser o único responsável pelo estado a que chegou um processo que anda nas bocas do mundo há já sete longos anos. O Ministério Público também é responsável. Porque manipulou descaradamente a opinião pública com o show off da detenção de Sócrates, ainda no avião, à chegada de Paris e por ter feito chegar de forma cirúrgica a certos tabloides dados da investigação em curso e em segredo de justiça. De ter escolhido a via do mega processo, vertido em mais de seis mil páginas, parecendo querer fazer o julgamento do regime, ao juntar no mesmo processo políticos, banqueiros, gestores de topo e empresários conhecidos, sabendo que tal iria arrastar as investigações e a tornar bastante mais complexa a obtenção de provas. E a terminar, haja algum amigo de José Sócrates que o aconselhe a ficar calado por estes dias. Entrevistas nas televisões e artigos na imprensa nacional e brasileira a clamar vitória e dizendo-se vítima de cabala política agora desmascarada, só reforçam a sua imagem de narcisista e mitómano junto da opinião pública. Até porque ainda muita água ainda vai passar por debaixo da ponte onde Sócrates se tenta manter contra ventos e marés...