José Dias Pires
ADVERSÁRIOS OU INIMIGOS?
Em democracia, uma das mais importantes qualidades da política e dos políticos é conhecer a diferença entre adversários e inimigos.
Adversários são aqueles que pretendem derrotar-nos numa disputa leal e legítima; inimigos são quem nos quer destruir.
Tratar os opositores como inimigos, é o mesmo que conduzir a política como se de uma guerra se tratasse e onde todos os meios e instrumentos são permitidos.
Esta confusão, infelizmente cada vez mais comum, dentro e fora dos partidos políticos, acontece por uma de duas razões (ou por ambas): desconhecimento efetivo do que cada conceito significa (o que é grave e inadmissível num político) ou intencional e estratégica conveniência (o que diminui, desvirtua e condena, em democracia, o exercício da política).
A falta de valores, de princípios e de conteúdo ideológico, têm-nos proporcionado, ultimamente, tristes espetáculos de confrontos “bem falados”, mas sem substância, que são geradores de situações constrangedoras e prejudiciais para a democracia e que transmitem, a quem a elas assiste, insegurança, receio, dúvida e, o que é pior, um posterior desinteresse que leva ao desapego pelos valores e princípios do exercício democrático da política.
Entre adversários, o confronto político franco, assertivo e enérgico, é a antítese do combate rasteiro, contaminado por atitudes traiçoeiras de quem, intencionalmente, confunde os adversários com os inimigos.
Na política os adversários são fundamentais porque não têm opiniões semelhantes às nossas e por isso, ao defenderem as suas ideias, princípios, interesses e propostas, obrigam-nos a argumentar e fundamentar o que pensamos e propomos.
Ser adversário é relativamente fácil, saber sê-lo é que exige maior trabalho e menor presunção para evitar contaminar debates e contraditórios com ações traiçoeiras e reações cobardes e moralmente baixas. Ser adversário implica ser coerente, fiável nas ideias e confiável nas ações, ocupando, com elevação, bastiões opostos
No campo democrático não há inimigos, há divergentes, há discordantes, há opositores e há, sobretudo, respeito e dignidade em cada uma destas situações.
Os inimigos estão no campo dos que odeiam e desprezam a democracia. Desejam e tudo fazem para que todos os males aconteçam aos que odeiam e desprezam. Em conformidade com a sua estrutura ética e moral, não regateiam esforços nem se preocupam com as consequências das suas ações para atingir os seus inimigos. Tudo lhes serve: a mentira, a fraude, a delação, a traição, a violência e o que de mais baixo e sujo possa estar ao seu alcance em condições de ser utilizado.
Aproximam-se tempos em que a clara destrinça ou intencional confusão entre adversários e inimigos poderá fazer a diferença e determinar a elevação da política e dos políticos ou o seu contrário.
Na política a designação de camarada, companheiro ou amigo marca a importância que, para todos nós, devem ter aqueles que nos são solidários, que partilham, conhecem e compreendem os mesmos ideais e não temem, com igual denodo, apoiar ou criticar.
Aproximam-se tempos em que nos veremos confrontados com o referendar da verdadeira dimensão das políticas autárquicas que é a capacidade de estar próximo, de conhecer e saber ser reconhecido, de ser amigo e dar a maior importância a tudo isso, rejeitando, de forma veemente e clara, o “amiguismo”, aparentemente altruísta e profundamente interesseiro.