Edição nº 1702 - 4 de agosto de 2021

Ernesto Candeias Martins
“AS ‘PROMESSAS’ EM POLÍTICA”

Estamos num período ‘Pré-eleições autárquicas’ e já todos prometem e dizem que vão fazer ou continuar a fazer. Diz a voz popular que de promessas está o mundo e a terra farta, pois na realidade pouco se faz e quando se faz é por interesses e conveniências. A ‘Promessa’ é uma forma específica de ação comunicativa, uma ação intersubjetiva que conta com o outro (cidadão eleitor) e dirige-se a ele desde de uma visão de um ato de efeito de ‘compromisso’ (promissão), impregnado de intuições indiretas (‘dados segundos’ na perspetiva do filósofo B. Husserl). Quem promete conta com o ‘Outro’ como estando aí (no concelho de Castelo Branco), mas não vivencia nem percebe inteiramente as suas experiências, nem o seu modo de vida, só sabe que se trata do ‘Outro’ que vai votar (eleitor). Posso dizer que as ações comunicativas como ações vinculantes supõem esse tipo de ‘dados segundos’ (análise dos dados constituintes da consciência) de Husserl, os quais se baseiam nas intuições das vivências dos eleitores, o que supõe um significado partilhado de que ‘estamos no mesmo...’ (rumo, direção ou sentido). A compreensão da temporalidade exige uma análise dos dados de consciência e dos seus objetos intencionais. O caráter de temporalidade, de ser passado ou futuro, consiste em alterações das próprias representações formuladas.
Mas será que o político está na mesma direção ou rumo quando profere essas promessas aos eleitores?
Não devemos pensar que são as palavras situacionais, a linguagem, as únicas que mudam o mundo. Linguagem e palavras são meios, tal como hoje usamos as novas tecnologias para comunicar e divulgar o que queremos que o ‘Outro’ saiba. Creio que as ações comunicativas de proximidade ou de contacto cara a cara, são as que têm maior alcance. O ‘ignorar’ o requisito mínimo da inter-relação humana é o ato do político, que ao pronunciar algo que vai fazer ou fará (promessa), quebra o vínculo da ação comunicativa com o eleitor. A especificidade do prometer, na sua estrutura (‘eidos’), leva o político a proferir compromissos no ‘agora’ e no ‘eleitor cidadão’ para o futuro, que na opinião de quem promete é de beneficio para esse(s) destinatário(s). Pura ilusão para quem aceita este ato de ‘promessa’, pois o que esta produz é uma simples ‘informação’ sobre o que fará ou irá fazer, com independência da vontade do político, ou seja, puro vaticínio. Prometer supõe oferecer algo no âmbito do sujeito que promete (o político), o qual pensa realizar esse ato, desde a sua pessoa (depende do perfil que transmite e da sua obrigação ético-cívica e social) e pelos seus próprios meios (benefícios). Quem promete afirma um compromisso de envolvimento em ações futuras, pondo nelas a sua vontade, o seu empenho e a sua conduta ética. Quando assumimos o compromisso da promessa esta converte-se em ‘obrigação’, pois o ato de prometer é um ato de fala que se circunscreve e se enuncia no presente e por alguém (político), numa situação concreta, neste caso no período eleitoral. Ora bem uma coisa é a ação (temporal) de ‘prometer’ e outra, bem diferente, o tempo futuro, pois este exige o cumprimento da dívida assumida relativamente à promessa feita. Mas será que o político cumpre quando se ‘com – promete’ com as promessas?
Depreende-se do que dissemos que se promete no presente, mas o tempo do prometido projeta-se no futuro, resultando, muitas vezes, absurdo prometer algo sobre o que já passou ou já ocorreu (o após as eleições). Contudo, a ‘promessa’ relaciona-se com o pôr-se à frente (‘pro–meter’), no compromisso com o futuro e, isso, depende sempre de quem a profere. O filósofo Nietzsche (tão citado nesta pós-modernidade em que vivemos) dizia que a promessa é aquilo que faz os homens previsíveis e calculadores, mas a ação de prometer não deve anular a imprevisibilidade da ação, já que conta com ela própria. Na perspetiva de A. Arendt (obra: ‘Diário Filosófico de 1950-73’) “(…) a grandiosidade da promessa é que estabelece algo fiável precisamente no material do incalculável e é aí onde todos nós pertencemos’. Ou seja, a promessa revela que a ação humana se movimenta no reino do incalculável e, porque não sabemos as certezas e para onde nos conduz as ações que empreendemos, mesmo sabendo que há contingências (externas) e incapacidades internas (do político), que impedem o compromisso daquilo que promete fazer.
O cidadão que vai votar nestas eleições deve estar atento à atuação de cada candidato e às promessas que proferem em qualquer meio de comunicação. Nenhum candidato que se preze de princípios e de conduta ética orientada ao bem das Pessoas, deve ir para os contextos políticos com a intenção de ‘beneficiar-se’ ou de oferecer ‘vantagens’, em troca de apoio político, já que, ao ser eleito, certamente continua a promover condicionado pelas tendências (suscetibilidades de interesses), influências e pressões de determinados lóbis da comunidade e lá se vão muitas das promessas proferidas temporalmente no passado. É determinante entender que nem todo o político é igual no seu perfil de ação, pois há qualidades, princípios e convicções que os diferenciam entre si. Existem candidatos interessados em promover uma mudança social, económica e ambiental, em promover projetos e obras, todos eles (julgamos) com boas intenções nas promessas, mas é bom conhecer as propostas de cada candidato, assim como o seu passado e daí que o meu lema básico seja Prometer Menos e Fazer Mais e Melhor, unindo as sinergias a bem das Pessoas, das Famílias e de todos os moradores não só da cidade, como do concelho.
É importante – para o aperfeiçoamento da conscientização cívica, para a responsabilização social e ética – distinguir os sistemas e as propostas (promessas) por meio dos quais serão eleitos os candidatos. O eleitor cidadão de Castelo Branco, no pleno exercício dos seus direitos e em democracia, tem um forte papel no destino da sua cidade, do concelho e o único instrumento que possui é o seu voto consciente. Logo, todos aqueles que vivemos nesta cidade/concelho devem exercer o seu direito ao voto – numa decisão madura, refletida e consciente, ou seja, VOTAR. Só assim poderá contribuir para impedir a eleição de políticos que buscam e dominam uma dialética balofa do ‘prometer’ e/ou do ‘Vou fazer’ e depois ‘nunca fazem’ e se fazem, são coisas (obras, projetos, investimentos) que, não têm sustentabilidade, não tem os efeitos desejados no bem-estar das populações (e gerações vindouras). O que proferem são promessas desfasadas de um desenvolvimento sustentável, de um plano de investimentos integrados, sem uma boa gestão dos recursos (hídricos, ambientais, florestais e do setor primário) e dos resíduos. Haverá que acreditar nas Pessoas e Famílias, nas suas qualidades, potencialidades e necessidades (problemas sociais), no seu amor à sua TERRA, aos seus vínculos culturais, patrimoniais e aos valores éticos-cívicos. O que peço aos ‘Políticos’ nestas eleições é que não prometam aquilo que depois não fazem ou então não prometam tantas coisas, sejam mais transparentes e tenham uma ética de compromisso com os eleitores do concelho, pois ao comprometerem-se com o futuro deles, comprometem-se com todas as ações que devem realizar ao serem eleitos. Quem promete, compromete-se com a sua identidade e o povo não perdoa, apesar de tolerar.
Candidato à Assembleia Municipal de Castelo Branco –Movimento CB Merece Mais - Eleições Autárquicas 2021

04/08/2021
 

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