Edição nº 1726 - 26 de janeiro de 2022

João Belém
NEUROPOLÍTICA

“Nenhuma decisão sensata pode ser tomada sem que se leve em conta o mundo não apenas como ele é, mas como ele virá a ser.”
Isaac Asimov

A atual atividade política incorpora novas estratégias. Neste sentido, existe a chamada política de marketing. Os assessores que supervisionam as campanhas eleitorais dos líderes políticos lidam com diversos tipos de ferramentas: o uso das redes sociais; o perfil e o modo de se comportar de cada do candidato; a sua linguagem; a vida pessoal e, por último, todos os aspetos que possam afetar a decisão dos eleitores. Uma das mais novas técnicas é a neuropolítica, nome de um ramo recente do conhecimento que investiga as implicações da neurociência no campo da política.
Os neurocientistas que desenvolvem a sua atividade na área da política analisam quais são as palavras mais adequadas para conseguir o êxito de um candidato, quais os gestos geram empatia na mente do eleitor e quais as atitudes políticas transmitem maior credibilidade.
Segundo Carlos Andrés Pérez Múnera (Doutor em Ciência Política pela Universidade Complutense de Madrid): “O mecanismo mais influente para a tomada de decisões é a empatia. Não estamos sozinhos nos debates, competimos com outros partidos organizados ou com candidatos que personalizam cada vez mais a política e temos que aprender que existem processos fisiológicos que explicam a empatia. Esta é a resposta à pergunta por que alguns eleitores dizem que gostam do candidato X ou Y sem motivo aparente. No entanto, o difícil não é apenas gerar esse link, mas explorá-lo para que se torne um suporte efetivo.
Eduard Punset, (político, advogado, economista) afirma que na nossa vida (nas nossas decisões) recorremos a intuições que exigem muito menos informações do que pensamos. Tomamos decisões muito sérias e importantes com um alto nível de exposição ao erro. E que mesmo “quando o cérebro percebe uma explicação diferente da que acredita, não apenas a questiona, corta os circuitos de comunicação para que não penetre. É por isso que não mudamos nosso voto.”
Isso é o que se chama dissonância. Ou seja, nosso cérebro bloqueia informações racionais que poderiam fazer-nos mudar de ideia, já que preferimos convicções emocionais ou morais a confirmações racionais. Preferimos ouvir o que queremos ouvir, ler o que queremos ler, dar a nossa opinião sobre o que queremos dizer.
O desafio é emocionante. O que já sabemos sobre o cérebro ainda é uma parte muito pequena do que saberemos. Mas já podemos afirmar que existe uma relação íntima entre o que pensamos, sentimos, vivemos e imitamos e que nem sempre o conhecemos a nível consciente, embora seja decisivo no momento de pensar e agir. O voto, como qualquer outra manifestação da vida política e pública, deve ser sempre refletido. O que é novo, ou melhor, o que agora sabemos com certeza, é que não há reflexão sem emoção.

26/01/2022
 

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