Edição nº 1726 - 26 de janeiro de 2022

Alfredo da Silva Correia
POBRE POVO NAÇÃO VALENTE

Tenho assistido aos diversos debates com vista às eleições do dia 30 de Janeiro e do que tenho ouvido e apreciado, não posso deixar de confirmar a minha leitura de que a classe política do nosso país perdeu muito valor e é hoje o resultado do afastamento dos mais capazes da vida pública. Efectivamente sinto que não existe profundidade nos temas tratados em tais debates e muito menos uma noção dos problemas globais do país, tudo se resumindo a esgrimir factos, sem que se consiga fazer uma análise profunda sobre o verdadeiro estado da nação, os seus problemas e como resolveriam os mesmos se fossem eleitos. É tudo de uma pobreza intelectual que confrange, o que só pode estar a acontecer por incapazes terem conseguido afastar os mais capazes da causa pública, pois sempre fui convicto que o povo português consegue grandes feitos, quando bem conduzido. Acontece que a cultura que conduziu à nossa actual difícil situação económica e financeira, bem reflectida, não só no enorme endividamento que temos, sempre em crescimento, mas também na cultura de facilidades emanada do sistema político que nos governa, não nos preparou, de forma alguma, para possíveis dificuldades que possam surgir, o que sempre ocorre, como realisticamente deveríamos saber.
De facto todos deveríamos ter consciência que as envolventes socioeconómicas mundiais favoráveis, como as que temos vivido ao longo dos últimos anos, não duram eternamente e chega sempre o período em que elas se deterioram, o que faz sofrer muito mais quem não se prepara para dificuldades, como vem acontecendo connosco, de uma forma bem preocupante. Confrange-me constatar que em tantos debates nenhum candidato tenha o bom senso de equacionar a nossa verdadeira situação económica e financeira, que conduziu a que tenhamos, então, tido de pedir ajuda à troika, sem a qual o Estado nem teria dinheiro para pagar os vencimentos à função pública e o valor da reforma, pelo menos a alguns reformados. Felizmente, neste quadro, ainda conseguimos ser ajudados, embora compreensivelmente, quem nos ajudou, tenha imposto regras e a instalação de uma cultura muito mais realista, do que a que nos conduziu então a uma situação tão desastrosa. Não obstante, na minha opinião, de uma forma perfeitamente errada a cultura instalada de reequilíbrio foi incompreensivelmente invertida ao ponto de se afirmar que a política de austeridade era um erro, apresentando-se como heróis quem a inverteu. Acontece que nunca pode existir uma política de austeridade impondo-se esta, sempre que se instala uma cultura de desequilíbrio, gastando-se mais do que o que se produz, como temos vivido há décadas, a verdadeira causa do crescimento sucessivo do nosso enorme e preocupante endividamento. Aliás, o que se passa com os Estados nesta matéria não é muito diferente do que se passa com as empresas e mesmo com os cidadãos quando vão à falência ou ao desemprego. Quando o Estado respectivo os pode ajudar minimizam as dificuldades vividas, como acontece com os Estados inseridos na Europa, quando esta está disponível para ajudar o país em dificuldade.
Acontece que perante as profundas alterações que se estão e verificar nas envolventes socioeconómicas a nível mundial, bem evidentes no crescimento da taxa de inflação, da falta de bens essenciais à vida e mesmo de taxas de juro em crescendo, está a chegar a hora de começarmos a pagar os desmandos cometidos no passado. Assim, parece-me confrangedor constatar que, os candidatos disponíveis à governação do país nas eleições que vivemos, nem sequer tenham a preocupação de equacionar todo este enorme problema que o povo português vai viver, num futuro não muito longínquo.
Espero estar enganado, mas parece-me evidente que se aproximam tempos bem difíceis que vamos ter de viver, sendo confrangedor sentirmos que vivemos um período eleitoral mas que, quando assistimos aos debates, nem conseguimos descortinar em quem conscientemente votar, porque nenhuma das candidaturas é capaz de nos apresentar um verdadeiro programa capaz de resolver os problemas estruturais e bem difíceis que atravessaremos. Assim, preparemo-nos para tempos nada fáceis, pois quando se seguem políticas erradas paga-se sempre a sua falta de racionalidade e, não tenho dúvidas, ela esteve bem presente quando se inverteu a cultura instalada pela troika. Em economia os erros pagam-se sempre, pelo que estará a chegar o tempo de pagarmos o erro de não termos um sistema político que permita uma boa governação. De facto, o nosso sistema político injecta-nos uma cultura semelhante à daqueles pais que criam os filhos num ambiente de facilidades, não os preparando para a vida. Ficam depois surpresos e preocupados quando os filhos nem são capazes de fazer a sua vida económica, quantas vezes com consequências bem desastrosas. É exactamente uma situação equivalente que vivemos hoje no nosso país, pelo que corremos o risco de ter de atravessar sérias dificuldades, o que só não acontecerá se a Europa nos ajudar, mas o nosso povo também tem um ditado que diz que “Quem dá não pode dar sempre, mas quem precisa tende a precisar sempre.”
Vamos ver para o que estamos guardados neste ambiente em que se esboçam, a nível mundial, envolventes socioeconómicas bem difíceis.
(Ex-dirigente associativo empresarial)

26/01/2022
 

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