Edição nº 1726 - 26 de janeiro de 2022

António Nunes Farias
REGIONALIZAR… OUTRA VEZ

É o regresso da velha senhora à qual o poder torce o nariz. Torce porque os ímpetos centralizadores que quem chega ao poleiro é de…centralizar. Juntar poder, acumular poder para depois controlar e expandir os tentáculos a tudo o que mexe. Garantir os amigos e isolar os inimigos. É assim, de forma simples que funciona a influência do poder. Recordo que esta conversa desenterrada hoje foi enterrada há uns bons anos por via daquilo a que o português não está habituado: o referendo. Valeu de pouco a campanha a favor da dita para a qual modestamente contribui ao lado do Fernando Paulouro, então director do Jornal do Fundão, por terras algarvias. A conversa do agora ou nunca está aí, de novo. Estão de regresso as promessas, os compromissos, as conferências sobre o assunto. É um bom sinal mas calculo que as convicções dos atuais políticos concorrentes à casa da democracia sejam de mera propaganda com o objectivo único da “caça ao voto”. Já se anuncia que a Regionalização sai à rua na campanha mas será em tom muito baixinho não levem os eleitores a coisa a sério. E depois, bem, depois as cenas demoram a acontecer. Dá jeito até porque o pessoal tem tendência para o esquecimento, António Costa já prometeu um referendo para 2024, como apoio de Marcelo. Ao que os partidos da chamada esquerda já disseram que, é só mais uma forma de baralhar para tudo continuar como dantes. E se calhar têm razão. Recordo que sobre a matéria existe uma Comissão Independente para a Descentralização (não Regionalização) que é liderada por um ex-ministro, de nome João Cravinho. Verdade seja dita, que “fabricou” as bases para o tal processo da…regionalização. Em suma, para já não há grande coisa mas, há qualquer coisa. De resto, quanto ao posicionamento dos partidos, o do costume, existem os pró e os contra. A coisa vai desde a partilha de poderes virtuosa, mais equitativa e que garante a verdadeira coesão do território até aos amedrontados que, dizem, não quererem multiplicar caciques porque em Lisboa há de sobra, logo, é assim que terá de continuar. A democracia é bonita por causa disto. O sistema permite e consente as opiniões mais podres numa maçã à qual entrou bicho desde a Revolução dos Cravos. Repare-se que o sistema, em si não está falido, é a idoneidade das pessoas (de muitas, com poder) que entrou em falência. Todos repararam mas a alternativa a esses, ou não existe ou ninguém a descobre. O mapa do país é o que é. Interessará a Lisboa distribuir poderes e/ou partilhar decisões com Castelo Branco, Portalegre ou Bragança? Interessará ao Terreiro do Paço que existam poderes intermédios nas regiões que depois trave vontades ao cume da pirâmide? Claro que não. Governar à vontade é o objectivo, sem escolhos incómodos pelo meio. A ocorrer o referendo importa que as pessoas saibam ao que vão. Perguntas claras. Territórios bem definidos e com-petências claras com mecanismos de “pesos e contra-pesos” para que não hajam abusos, clientelismos e caciquismos. Pensar a Regionalização como deve ser. Sem perguntas que confundam. Estarão os políticos da praça interessados nisso? Regionalização, agora ou nunca. A frase assim, solta, nasce com um alto grau de inquinação. Pode não ser agora e até pode ser depois. Mas, nunca digas nunca. É assim na história (quando ela se repete quase sempre pelos piores motivos) como é na política.
Lembrete: O referendo à reforma administrativa aconteceu em 1989 e foi chumbada por 60% dos que a votaram.

26/01/2022
 

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