Lopes Marcelo
IV - LARGO DA SENHORA DA PIEDADE
De Ruas, Avenidas, Largos e Praças se constitui o património edificado de uso colectivo da nossa cidade, artérias públicas por onde circula o fluxo de pessoas e de bens. São, também, mosaicos de vida e locais de encontro e de celebração social e cultural.
Nas suas formas, dimensões e características se plasmou a paisagem urbana que é a memória legada pelas gerações que nos antecederam.
A referência de hoje é ao Largo da Senhora da Piedade situado na elevação mesmo em frente ao monte do Castelo, para nascente, que tem ao centro a capela de que recebe o nome, cujo interior é uma autêntica relíquia quanto aos originais azulejos. Desconhece-se a data da fundação, sabendo-se que foi reconstruída no Século XVIII e restaurada no segundo quartel do Século XX. O edifício da Capela é modesto e de pequena dimensão, mas muito harmonioso com a fachada simples ladeada por duas torres sineiras simétricas. A nave tem nove metros de comprimento e cinco de largura. As paredes interiores são forradas de azulejos artísticos do final do século XVIII, de composição figurativa em monocromia: azul em fundo branco. Os azulejos estão dispostos em dois níveis: os do nível inferior representam cenas marianas, enquanto os do nível superior apresentam os doze apóstolos, com os seus atributos específicos. Num quadro, também de azulejos, consta: “Esta obra a azulejo e pavimento se fez com o dinheiro do Doutor Francisco Rafeiro. Pede-se um Padre-Nosso e uma Ave-Maria”. A meio do pavimento existe uma laje sepulcral com o seguinte epitáfio: “Aqui está depositado o corpo de Gil Vaz Lobo, governador de armas que foi de ambos os partidos da Beira”.
A Capela de Nossa Senhora da Piedade foi primitivamente da invocação de S. Gregório. António Roxo, na sua monografia de 1890, aventou a hipótese de esta Capela ter mudado de designação pelo facto de para ali ter sido levada a imagem da Senhora da Piedade quando se arruinou uma capela hexagonal que lhe ficava fronteira e onde estava também a imagem do Senhor da Azinha. De facto, a imagem de Nossa Senhora da Piedade em pedra de Ançã, é muito bela e antiquíssima.
Todo o interior em azulejos, constitui um notável tesouro artístico que justifica plenamente a visita. Contudo, para além da pequena nota informativa no exterior, a Capela encontra-se quase sempre fechada e não consta que esteja incluída num adequado roteiro cultural do património religioso da nossa cidade.