João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
A DIREITA, A EXTREMA DIREITA PORTUGUESA esteve reunida por estes dias. Primeiro a Iniciativa Liberal (IL), depois aquele partido cujo nome muito bom democrata quase que recusa a pronunciar, a fazer de conta que não existe, a ignorá-lo. Não será essa a melhor estratégia, tal como qualquer tumor que não se trate, acaba a corroer o corpo hospedeiro, também o Chega deverá ser enfrentado, perceber o mal que o faz crescer, para aplicar o tratamento que vai proteger a saúde da democracia. A IL, que tem tido boa imprensa, militantes da fina estirpe, mostrou no congresso que elegeu o sucessor de João Cotrim de Figueiredo que ideias de governação, por enquanto ainda não existem por aqueles lados, por agora um conjunto de ideias inconsistentes e irrealistas. Foi um partido divido que elegeu Rui Rocha, que ambiciona pôr o partido no governo com o PSD, traçando uma linha vermelha para o Chega. Vamos ver se o IL não se sentirá órfão do homem que o levou de um solitário deputado a um grupo parlamentar de oito. Uma semana depois foi a vez do Chega reafirmar a liderança de André Ventura com números à Kim Jong-un, a confirmar-se como partido de um homem. Sempre com um discurso de ódio, capaz de por em delírio os militantes presentes e que ambiciona tornar-se o partido mais votado da direita. As capacidades visionárias de Ventura já o faz a liderar um governo, que de uma vez por todas vai purificar este país das ideias de esquerda, ou seja da corrupção, e pôr esta democracia na ordem. O que alimenta o discurso populista do líder são os erros do governo socialista, a complacência da direita democrática, a instalação de um ambiente justicialista que vai fazendo pingar cada semana para a comunicação social, para um jornal em particular, investigações que de algum modo afetam a imagem de políticos, sejam eles governantes, autarcas ou deputados, mesmo que não sejam constituídos arguidos. São investigações que são desenterradas agora depois de repousarem nas gavetas da justiça há vários anos. Mas que serve para alimentar a fogueira que vai queimando esta maioria absoluta e vai fazendo desprestigiar as instituições democráticas, criando descrença nos políticos. Não em todos, não os que se querem mostrar como impolutos, capazes de varrer do templo os corruptos, de fazer voltar Portugal aos tempos do salazarismo do Deus, Pátria e Autoridade. Afirmava um dia destes um analista político brasileiro, que André Ventura é mais perigoso que Bolsonaro para a democracia. Porque André Ventura é bem mais inteligente e tece melhor os fios da meada populista. E não se iludam, a extrema direita que se diz moralizadora transporta consigo o ovo da violência sempre que chega ao poder. Foi nos Estados Unidos, foi no Brasil, e veja-se agora Israel onde o novo governo imbuído de extremismo religioso e político trouxe a violência e a morte, como já há muitos anos não se via, ao território palestiniano. Como é sabido, a violência gera violência. E desta forma, a insegurança no território israelita que dizia querer defender.