Edição nº 1782 - 1 de março de 2023

Valter Lemos
A GRANDE CRISE DO SÉC. XXI

O Homo sapiens é uma espécie muito mais recente do que muitos pensam. A sua origem remontará a cerca de 350 mil anos atrás na África austral, mas a evolução cultural que o caracteriza e distingue das outras espécies iniciou-se somente há 50 mil anos. No entanto, esta evolução cultural, derivada da capacidade de aprender e acumular conhecimento, foi muito lenta durante largos milénios. Foi a revolução agrícola, há cerca de 10 mil anos, que veio acelerar a evolução cultural humana. A fixação de grupos humanos no mesmo local durante gerações, deu início às primeiras sociedades organizadas e há cerca de 6 mil anos surgiram os primeiros proto-estados na Mesopotâmia, Egipto e noroeste da India.
O Homem é a única espécie capaz de alterar, de forma permanente, o seu habitat e a sua intervenção nessa dimensão aumentou e acelerou sempre nos últimos milhares de anos. A revolução científica do séc. XVII e a consequente revolução industrial dos séc. XVIII e XIX, potenciaram enormemente a intervenção humana no ambiente terrestre. O Homem passou de um habitante da Terra a “dono e senhor” da mesma. Colonizou todos os continentes, ocupou todos os espaços não só na terra, mas também no mar e no ar.
Com tal sucesso adaptativo, a população cresceu exponencialmente. Nos últimos 200 anos, a população humana passou de um bilião para cerca de 7 biliões!
O século XX com a utilização massiva e intensiva dos combustíveis fósseis tornou-se o zénite da intervenção humana no seu ambiente, com efeitos de tal forma alargados que arrasaram a capacidade regenerativa do planeta mostrando efeitos, em muitos casos, já impossíveis de reverter ou sequer corrigir.
No início do séc. XXI uma grande parte dos cursos de água no mundo estão poluídos e contaminados, diminuindo drasticamente a quantidade de água potável disponível. O mesmo se passa com praticamente todos os oceanos, cuja contaminação por resíduos plásticos atinge vários milhões de toneladas anuais. Aos plásticos acrescem os metais pesados altamente perigosos para a vida e a saúde humanas. Hoje grande parte do peixe existente no oceano está contaminado com metais pesados e com microplásticos.
À poluição de dimensão planetária existente junta-se uma acelerada alteração do clima provocada pelo crescimento do aquecimento global. Este é provocado pelo incomensurável aumento de emissões de dióxido de carbono, metano e outros gases, que tem vindo a ocorrer nas últimas décadas, provocado essencialmente pela utilização de combustíveis fósseis na produção de energia, aumentando acentuadamente o efeito de estufa na atmosfera e também pela acentuada desflorestação.
O aquecimento global é um facto. Cientificamente demonstrado. Não é uma questão de fé ou de crença. Não “acreditar” no aquecimento global não é uma posição política. É simplesmente estupidez ou ignorância. Muitas vezes suportada em campanhas negacionistas financiadas pelos grandes interesses económicos envolvidos na indústria da energia.
O aumento da temperatura global afeta os ciclos naturais da Terra, provocando a acidificação e a desoxigenação das águas, o degelo das calotas polares, a desertificação de zonas florestadas, enchentes e secas grave e a alteração do padrão dos ventos e do regime das chuvas com a intensificação de fenómenos climáticos extremos.
Um aumento de 3,5 graus da temperatura média no globo provocará a extinção irreversível de mais de dois terços de todas as espécies vegetais e animais hoje existentes.
Estamos perante a maior crise da história da humanidade. Só mesmo a ignorância, a cegueira, o egoísmo e o desprezo pelos outros podem conduzir alguém a negá-la.
Por isso, a maior tarefa deste século é enfrentar e resolver esta crise, que, tendo sido provocada pelo homem, terá que ser resolvida pelo mesmo. Para tal é necessário não só ter medidas políticas robustas e suportadas na ciência, mas também insistir na divulgação e na educação das pessoas, para que todos possam compreender a gravidade do que está em causa e a absoluta necessidade de combater esta crise.

01/03/2023
 

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