Edição nº 1790 - 26 de abril de 2023

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

NO DIA EM QUE ESCREVO este texto, comemora-se um pouco por todo o Mundo o Dia do Livro e dos Direitos de Autor. Deveríamos comemorar o Dia do Livro e dos Leitores, porque um existirá sempre em função do outro. Já há muitos anos que é anunciada a morte do livro, pelo menos em suporte de papel, com os ecrãs a marcar o nosso quotidiano, também por isso uma época do efémero. Esta imersão nas tecnologias, da sociedade de consumo e do individualismo é retratado no livro A Era do Vazio, de Gilles Lipovetsky, editado nos finais dos anos 80 e um clássico tão atual que voltou recentemente a ser reeditado.
O livro resulta da inspiração, da arte do autor no lavrar da palavra, que o editor e o livreiro há de fazer que chegue às nossas mãos para acontecer aquela relação que nos dá prazer inteletual e quase sempre nos deixa felizes. Não escondo que a relação que estabeleço com um livro em papel, não é a mesma que com um em suporte digital. A imaterialidade de um livro não me seduz. Prefiro a estante do escritório onde tantos livros se perdem e a busca leva horas, com agradáveis surpresas pelo meio, aos milhares de livros disponíveis e bem indexados em qualquer leitor de ebook.
À volta do livro desenvolvem-se sentimentos de partilha e afetividade que colocam o livro, o autor e a tribo dos seus leitores num lugar importante das nossas vidas. Buscas infrutíferas entre os meus livros, pelo Amor Feliz, de David Mourão-Ferreira que queria muito reler e se encontra esgotado deixou-me naturalmente frustrado e logo as minhas amigas Mili e a Edite se disponibilizaram a fazer-me chegar o seu exemplar. Ou como acontece nas festas de Sant Jordi, na Catalunha, que estão a acontecer por estes dias, onde no último ano e de acordo com a tradição, mais de 100 mil catalães compraram mais de milhão e meio de livros para oferecer a pessoas da sua estima. É esta a força e o significado do livro, dos afetos que se criam à sua volta na época do imediatismo, dos ecrãs e das redes sociais, que nos faz acreditar que o livro tem um futuro garantido, até por uma nova geração de leitores que voltaram a frequentar bibliotecas e livrarias.
Como se chega à condição de leitor? Conviver com o livro em casa desde criança não é absolutamente indispensável, mas ajuda. O meu pai, que era agricultor com a quarta classe feita, era também leitor compulsivo e homem de muita sabedoria. Júlio Dinis, Camilo Castelo Branco, Eça, Júlio Verne, Stefan Zweig e Zola (este, em fascículos que chegavam semanalmente pela mão do carteiro) eram o meu universo infantil. A juntar à revista mensal de aventuras e banda desenhada que a conselho do professor Hormigo, meu pai me assinava. Até ao fim dos seus dias nunca dispensou a leitura (crítica) da Gazeta do Interior e da Reconquista. E o último livro que leu e saboreou por inteiro foi a biografia de Afonso Henriques escrita pelo professor Freitas do Amaral. O filho teve a ventura, de a caminho da universidade passar por meia dúzia de alfarrabistas que, quem alguma vez visitou sabe, pelo cheiro e pelo recheio são autênticos baús de tesouros.
Um país onde se cultiva e apoia o livro é um país com futuro. Porque um bom leitor é quase sempre um cidadão crítico e interveniente. Como nos tempos mais difíceis da censura, que fazia vender livros por baixo do balcão. Esta é a minha declaração de amor ao Livro. E o meu obrigado aos Capitães de abril que fizeram florir a cultura em liberdade.

26/04/2023
 

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