Edição nº 1798 - 21 de junho de 2023

Maria de Lurdes Gouveia Barata
APONTAMENTOS DESTE JUNHO 2023

Apontar implica neste caso registo, uma vez que a palavra escrita tem a força de guardar por mais tempo e de se tornar numa memória a que se volta, reavivando um momento e um determinado lugar. Lembro-me dum poema de Casimiro de Brito, «O Ofício», em que justifica o motivo por que escreve, e faço excerto de dois tercetos: «(…) Escrevo como quem escava / no bojo da sombra / um mar de claridade. // Pedras vivas de possibilidade / as palavras levantam / o crime, os pássaros do pântano. (…)». A escrita tem o poder de estruturar o pensamento e a lógica duma asserção. Penso ser digno de registo (uma expressão aqui adequada) o que vou escrever em apontamento apenas.
Neste Junho tão instável meteorologicamente e socialmente no mundo e em Portugal, inscreve-se o que cada um de nós, embora de modo subjectivo, sente como instabilidade ou perturbação:
ENFADO E FALTA DE PACIÊNCIA para continuar a ouvir falar do SIS por causa do roubo de um computador com documentos classificados do Ministério das Infra-Estruturas e da Habitação. Durante dias e dias foi crescendo um enredo de novela, emaranhando-se cada vez mais (por interesse de alguns), despertando progressivamente irritações e impaciência. Chegou-se ao ponto de se discutir sobre a exactidão da hora, minutos e segundos do quando o SIS foi avisado… A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a TAP mudou o curso do seu rio de inquirição, foi para a margem, porque ouviu ruídos de arraial e sempre faz bem uma distracção com um pé de dança com rasteiras políticas para ataque. Quem mente? Quem não mente? Quem avisou o SIS? Já se sabe: a Chefe de Gabinete do Ministério das Infra-Estruturas. Mas com quem falou? Quem mais está metido nisto? Mas o SIS foi envolvido! E fico a pensar na menorização que se fez sobre o SIS! Aceder ao contacto não é decisão própria? Ou é pau mandado? Ou incompetência? Cometeu ilegalidade? E nestas confusões, que se embrulham umas nas outras, envolvem-se pessoas responsáveis e envolve-se o público anónimo, que assiste na plateia, de que faço parte. Desfile de implicados, adversários políticos, comunicação social, comentadores e … basta!
A BARRAGEM DE NOVA KAKHOVKA, NO SUL DA UCRÂNIA, FOI DESTRUÍDA - Quotidianamente entra-nos em casa a guerra da Ucrânia, que Putin mandou invadir para saciar desejos megalómanos de um império. Não olhando a meios para atingir fins, já qualificado como criminoso de guerra, as cenas de mortes, ataques a hospitais e escolas, a bairros civis, vão despertando a revolta e a condenação de quem se atreveu à invasão dum país livre. Agora foi a destruição de uma barragem. Pessoalmente, perturbou-me de modo mais incisivo, talvez porque já há o perigo de habituação à crueldade diária desta guerra, nunca devendo, porém, habituarmo-nos a qualquer tipo de crueldade. Agora, passaram a discutir-se as recíprocas acusações: foi a Ucrânia que destruiu ou foi a Rússia que destruiu? Quem mente? Eu não tenho dúvidas: é o mentiroso de sempre. Quando cercou militarmente a Ucrânia, em Fevereiro de 2022, e começaram a soar vozes de possível invasão, foi frequentemente noticiado que os comentários de Putin eram sobre exercícios militares e que o Ocidente tinha entrado em histerismo. Afinal, a 24 de Fevereiro deu-se a invasão e há mais de um ano que decorre esta guerra terrível. As mentiras ao povo russo, através da comunicação social dominada pelo Kremlin, tornam-se uma ofensa à inteligência mediana de qualquer ser humano. E as mentiras podiam ser enumeradas em longa lista. Como acreditar então que não seja Putin o mentiroso ao dizer que foi o exército ucraniano que destruiu a barragem?
Esta destruição torna-se um desastre industrial e ecológico – é só observarmos as imagens de milhares de peixes estrebuchando (apenas um exemplo). A catástrofe arrasou aldeias inteiras, inundou terrenos agrícolas, privou muitos milhares de pessoas de electricidade (era uma barragem hidroeléctrica) e privou-as também de água potável. Assusta-me a proximidade da central nuclear de Zaporíjia, na mão dos russos e com os níveis de água a baixar, sendo necessária ao arrefecimento da central.
O major-general Agostinho Costa considera que a destruição da barragem de Nova Kakhovka é “um cataclismo, uma situação humanitária terrível”, que “só não é pior porque uma grande parte da região foi evacuada”. Especialista em Assuntos de Segurança lembra que “Kherson é linha da frente” de combate e que o colapso da barragem vai dificultar a contra-ofensiva ucraniana. Agostinho Costa volta a dizer que “tudo aponta que a destruição tenha sido conduzida pelos russos”, pois “beneficia” as tropas de Moscovo, “porque condiciona a manobra ucraniana”. “A ofensiva ucraniana contava com um eixo de ataque a partir de Kherson, que implicava uma travessia do curso de água”, explica.
Fala-se agora de genocídio e ecocídio. Com pode travar-se todo este horror?!
Termino com o pensamento de Henry Miller - cada guerra é uma destruição do espírito humano – e de Aristóteles – o objectivo da guerra é a Paz. No caso da Ucrânia é a Liberdade e a Paz.

21/06/2023
 

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