Edição nº 1807 - 30 de agosto de 2023

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

NA VISITA À UCRÂNIA, o Presidente da República foi o Marcelo que todos conhecemos. Se isso foi mau ou bom, não sei. Mas foi diferente e, neste caso, valorizou uma visita, que poderia ser mais uma entre tantas que os dirigentes das democracias ocidentais têm realizado, a mostrar solidariedade com este povo martirizado pela guerra cruenta promovida por Putin. Tantas visitas que Zelensky deve ter muitas vezes problemas de agenda.
Num país em guerra, o ruído das sirenes já fazem parte do quotidiano. Mas Marcelo não ligou, não cumpriu as regras de segurança, ao contrário de outra líder europeia que estava também por esses dias em visita oficial em Kiev e correu a refugiar-se num bunker. Marcelo, a fazer jus ao Portugal nação valente, borrifou-se para as sirenes e foi, com a sua comitiva, esplanadar para o centro da cidade e saborear uma cerveja fresquinha. Fez o périplo da visita às povoações mártires, falou com as pessoas, furou por várias vezes os protocolos atarantando os serviços de seguranças, esteve envolvido num mar de gente com quem tirou as habituais selfies. Num à vontade que entusiasmou e surpreendeu muitos jovens ucranianos que nunca tinham visto, desde que a guerra começou, um chefe de estado estrangeiro movimentar-se desta forma pelas ruas da capital. “É mesmo o Presidente de Portugal? Aqui?!” e “nunca vi um Presidente aqui a passear”, ouviu-se de ucranianos. Depôs muitos ramos de flores, visitou museus que não estavam no programa da visita, como aquele que vai ser renomeado de Museu da Independência e que recolhe vários troféus de guerra do exército de Putin. E ainda teve tempo para conferenciar com o presidente Zelensky. Finalmente, duas cerejas no cimo do bolo. Uma, a visita ao interior de uma trincheira que lhe fez lembrar as da Primeira Guerra Mundial, construída por populares logo nos primeiros dias da invasão, visita só realizada até aí pelo próprio Zelensky. E o discurso em ucraniano durante as comemorações do Dia da Independência, deixando a mensagem de que Portugal apoia a pretensão da Ucrânia em manter as sua fronteiras originais, anteriores à ocupação russa.
Por tudo isto, que é muito, Marcelo foi o Marcelo que todos conhecemos, que uns apreciam mais que outros. Que surpreendeu também pela assertividade com que declarou o apoio em toda a linha de Portugal à Ucrânia, também nas suas pretensões de entrada na Comunidade Europeia e na Nato, ciente de que os portugueses, na sua grande maioria, o seguem neste seu apoio.
Este voluntarismo de Marcelo não caiu bem em quem institucionalmente não apoiou a visita do Presidente, por não ver utilidade política na deslocação. Também não caiu bem em alguns comentadores militares de tendência pró-russa que viram nas promessas formuladas por Marcelo uma atitude pouco democrática já que a posição oficial deveria ser definida na Assembleia da República. Marcelo foi à guerra e a sua visita foi diferente. E a imagem de Portugal, já há muito tempo incluído na diáspora ucraniana, acaba por sair bem reforçada.

30/08/2023
 

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