Edição nº 1807 - 30 de agosto de 2023

A. Pinto Pires
Nos 132 anos da linha férrea com rotunda ao abandono

Com motivos de júbilo ou não, a Linha da Beira Baixa, LBB, comemora os seus 132 anos de existência, por entre muitos avanços e recuos, muitas indecisões, continuando ainda à espera de futuro.
A 5 de setembro de 1891, Castelo Branco rejubilava com a chegada do cavalo de ferro trazendo a bordo suas majestades Carlos e Amélia de Orleães, inaugurando oficialmente a linha de todas as indecisões, ou não fora esta a última grande infraestrutura ferroviária a ser construída no país.
Uma linha que esteve indiciada como sendo a 1ª internacional para ligar Lisboa a Madrid. Denominada então por linha do Vale do Tejo, a ser construída em bitola ibérica, medida entre carris utilizada por Portugal e Espanha, que chegando a Ródão infletia em direção a Monfortinho atravessando o planalto estremenho e daí a Madrid.
A Beira Baixa, seria contemplada por uma linha de via estreita, a sair de Ródão em direção a Castelo Branco, Fundão, Covilhã e Guarda. Daí a linha poderia seguir em direção ao Douro, onde encontraria um canal que a conduziria a Bragança e daí à Puebla de Sanábria. Visão estratégica antiga, que no presente se poderia revelar de uma enorme mais valia para ligar o norte transmontano à linha de alta velocidade já em pleno funcionamento, que há-de chegar a Vigo, já em funcionamento entre Ourense e Madrid. Otero de Sanábria, embora em terras limítrofes galaico castelhanas, trata-se de uma estação com capacidade para servir o norte de Portugal. Já em pleno funcionamento. Até lhe chamam o apeadeiro de Bragança.
Voltando à LBB, o projeto inicial foi sendo postergado face ao avanço da linha da Beira Alta que granjeou maiores apoios, acrescentando o ramal de Cáceres, cuja importância dos fosfatos ditaram mais alto. Porém, na Câmara dos Pares do Reino, Manuel Vaz Preto Geraldes, par pelo distrito de Castelo Branco e natural da Lousa, não se resignou perante as evidências e travou um tremendo combate parlamentar levado a bom termo com a decisão de a LBB ser lançada a concurso. A sua tenacidade foi determinante, chegando a LBB ser apelidada de linha do Vaz Preto. Debates parlamentares, ontem como hoje.
No presente tivemos o surgimento do Plano Ferroviário Nacional, PFN que nada acrescentou à LBB. Frederico Francisco, o seu autor, reafirmou-o na Covilhã em 2021. A região terá que se contentar com o existente. Porém, O 6 de Setembro, Grupo de Amigos do Caminho de Ferro da Beira Baixa, não se contentou com esta intenção de plano ainda sob o efeito de consulta pública, e no que se refere ao troço de Castelo Branco a Abrantes, o Ministério das Infraestruturas deveria repensar a questão do traçado reforçando deste modo uma resiliência que não pode esmorecer.
O traçado que serpenteia o rio Tejo a partir de Ródão, continua a ser um quebra-cabeças. Desde a CP, passando pela ex-Refer e agora a IP, diversas foram as medidas tomadas em prol da segurança das circulações, mas em nosso entender muito aquém do exigido, bastante dispendiosas mas de duração efémera em alguns casos, não obstante as intenções. Paliativos não resolvem situações complexas.
O 6 de Setembro, desde 1990 que anda a clamar sobre o assunto alertando para as insuficiências das medidas encetadas. A linha deveria sofrer fortes correções aproximando-a mais no sentido da encosta, e nos locais de maior perigosidade de derrubamento, serem implementados túneis cegos ou palas, com abertura para o lado do rio, não impedindo o vislumbre da paisagem, aumentando dessa forma não apenas a segurança das circulações mas também o aumento das velocidades. Castelo Branco ficaria por certo a menor distância da capital. Atingido o planalto do médio Tejo, nomeadamente a partir de Belver, haveria que proceder a uma verdadeira renovação integral da via, RIV, dotando-a de característica físicas para velocidades entre os 120/140h. No mínimo, poderiam ser retirados 45 minutos ao tempo de percurso atual.
Tratando-se de uma efeméride, não deverão passar ao lado as questões de preservação do património. A estação de Castelo Branco detém no seu lay-out, uma das peças mais belas e icónicas do nosso caminho de ferro, quiçá única, a rotunda de locomotivas, toda em alvenaria. Nas suas paredes está inscrita a data da sua construção, 1891. Chegou a ser depósito de material histórico devolvido ao Museu do entroncamento, MNF. Daí ao seu abandono, foi um passo. O 6 de Setembro, sempre atento a esta realidade preocupante, em devido tempo, apresentou a Joaquim Morão um estudo para a sua preservação, tendente a recriar no mesmo espaço uma secção museológica do MNF, multifacetada, virada para a inovação e sustentabilidade ambiental, uma vez que o caminho de ferro, ou o comboio, se quisermos, se inscreve perfeitamente nesses parâmetros.
132 anos depois, uma data que nos merece toda a atenção em prol de um caminho de ferro que se pretende de futuro e cada vez mais sustentável.
A. Pinto Pires (Membro de O 6 de Setembro, Grupo de Amigos do Caminho de Ferro da Beira Baixa)

30/08/2023
 

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