Manuel Vicente apresenta A Tentação do Mar
A Tentação do Maré o título do livro da autoria do Albicastrense Manuel Vicente que foi apresentado dia 1 de novembro, no Cineteatro São João, no Entroncamento.
Na apresentação da obra foi referido que “para Portugal e para os Portugueses o mar sempre foi uma tentação. Foi nele que encontrou a sua grandeza, o prolongamento da sua identidade e quase de certeza a sua missão como nação ímpar entre as cerca de 200 nacionalidades. Primeiro, foi a gesta dos Descobrimentos Portugueses no Século XV e dos que se seguiram. Depois uma saga muito diferente, mas não menos corajosa. A dos pescadores de todo o Litoral do País para os mares frios, cinzentos e remotos do Atlântico Norte. Eram homens muito pobres que partiam todos os anos para a pesca do bacalhau durante cinco meses longe de casa e em condições de extremas dificuldades para que lá longe, no seu lar humilde, não faltasse o pão nem o conduto para os seus. E há ainda, por fim, o caso da extensão da Plataforma Continental de Portugal. Algo ainda em botão, mas que nos tornará previsivelmente num país de tamanho imenso (considerando também nesse tamanho a plataforma marítima), um entre os maiores do Mundo, e para a qual o País já está a preparar-se em muitos aspetos”.
O autor, de 71 anos, nasceu em Castelo Branco, e a sua família tem raízes na aldeia de Malpica do Tejo, habitat adorado por Manuel Vicente e onde regressa com regularidade, embora já seja muito diferente da dos anos 60 e 70 do século passado, quando aí viveu mais regularmente.
Na mesa da apresentação, para além do autor, estiveram o presidente da Câmara do Entroncamento, Jorge Faria; o editor da obra, António Vieira da Silva; os professores de Língua Portuguesa Maria José Ventura e José Manuel Ventura; a professora Lurdes Pires Marques, autora do prefácio; e o historiador e investigador cultural António Matias Coelho.
“Depois de O Vento das Sete Serras (2019), uma caminhada pelo Interior do País e pelas raízes mais fundas da nossa tradição rural, Manuel Fernandes Vicente brinda-nos agora com A Tentação do Mar. É o outro lado do ser Português, a parte de nós virada à imensidão do oceano, ao que tiramos dele, ao que descobrimos através dele, aos sonhos que projetamos nele, aos seus apelos e perigos, às nossas grandezas e dificuldades”, destacou António Matias Coelho.
“Não é fácil de classificar: monografia da água; geografia humana de Portugal; livro de viagens; livro de aventura; etnografia poética da água… A Tentação do Mar é uma história de amor, de erotismo, de enamoramento, de revelação, pois Manuel Vicente levanta o véu para mostrar os lugares (afetivos), as gentes, a natureza, numa relação de interdependência. Manuel Vicente observa, contempla (com tempo e com a atitude de quem está num templo), para preservar a memória, a identidade e, nesse sentido, tem uma dimensão salvífica”, referiu Lurdes Marques, para quem “Manuel Vicente ama o passado sem ser saudosista, e entende o tempo como uma linha contínua; é um otimista, recusando a lamúria face a problemas que encontra, prefere apontar caminhos (à secagem do bacalhau contrapõe o Canhão da Nazaré). Estamos perante uma homenagem ao mar, aos espaços; ao povo, a Portugal, numa escrita que é também uma homenagem à língua. Manuel Vicente deixa-se seduzir, mas é também um sedutor, já que nos atrai para entrar neste universo encantatório. Felizmente esta não é a última tentação de Manuel Vicente.
O autor da obra, que optou por acompanhar a sua intervenção com imagens referentes a alguns conteúdos do livro, notou a importância histórica do oceano para os Portugueses, sublinhando a diversidade de formas e de diálogos tão diferentes com que ao longo da costa o povo fala com o mar. São relações inteligentes e até capazes de culturas locais específicas e muito próprias, como são os casos da apanha do sargaço na Apúlia, da pesca da sardinha em Peniche e da apanha de percebes na Costa Vicentina, entre muitos outros exemplos. Para Manuel “o livro é de pequenas e grandes histórias e nelas cabem também as de vida de pessoas que fizeram (e fazem) das que lhes coube, sagas que valerá a pena ler”.