Edição nº 1857 - 14 de agosto de 2024

Lopes Marcelo
TURISTA ESPIRITUAL

Estamos em pleno Verão, período especial de férias, de maior movimentação de pessoas que viajam por múltiplos motivos e variados objectivos. Uma das vertentes da evolução da sociedade moderna, sendo mesmo um dos principais indicadores do progresso e do bem-estar, traduz-se na dimensão de ócio, pela disponibilidade de tempo não comprometido com actividades produtivas sendo assim uma parcela livre de lazer que é gerido por critérios e objectivos pessoais e familiares. E, todo um mundo de oportunidades se nos deparam oferecidos pela designada economia dos tempos livres. O Homem é essencialmente um ser gregário, não é uma ilha nem é autossuficiente, sendo, portanto, natural a tendência humana para conviver, para o intercâmbio cultural, a troca de ideias, novas experiências, novos conhecimentos, alargamento de horizontes e desenvolvimento pessoal. Avolumando-se a procura, também a oferta não pára de crescer, desenvolvendo-se a próspera economia do turismo.
Economia cada vez mais diversificada em inúmeras vertentes com destaque para o turismo espectáculo, desportivo, gastronómico, cultural e ambiental. E aí temos festivais para todos os gostos na febre consumista de se obter compensação para o restante período do ano de apertadas rotinas.
Contudo, não é dessa ânsia e pressa de viver que vou dar testemunho. De facto, pretender-se usufruir muito em programas concentrados, em pacotes formatados e pré-definidos de muito ver, muito correr e ouvir, mas em que não há oportunidade para demorar o olhar, para escutar e confrontar, para fazer perguntas, para saborear ao ritmo pessoal o enquadramento histórico e cultural do espírito dos novos lugares; é um processo de turismo de massas de valor muito relativo e precário. Cada viagem vale muito pela sua preparação, pela janela que cada pessoa abra sobre si próprio de modo a permitir que se inscrevam no seu mundo os conhecimentos e os valores que seleciona na sempre renovada aventura de novas experiências. Viajar é muito mais do que obter uma colecção de fotografias ou procurar e juntar coisas, objectos e sensações. Pode constituir um projecto de disponibilidade em compromisso de abertura ao outro, acolhendo outras realidades em que ansiamos mergulhar para nos envolvermos e nos transformarmos. É uma experiência pessoal, quer seja vivida individualmente, quer o seja em comunidade de família ou de pequeno grupo cuja matriz de valores, de interesses e de afinidades assegure identidade, embora no livre mosaico plural da pauta pessoal de vivências e emoções. Disponibilidade para a surpresa norteada por uma atitude de curiosidade, mas e sobretudo, de respeito e de partilha em diálogo que exige tempo, alguma lentidão fecunda de envolvimento criativo de análise, compreensão e reflexão.
Nesta perspectiva de exigência estamos no âmbito do turismo temático que, não sendo novo anda bastante diluído na voragem dos propagandeados pacotes de viagens. Entre as várias temáticas destaco a postura de turista espiritual, aliás título de um livro de Mick Brown publicado no início deste século. Foi nesta postura que recentemente participei numa viagem ao centro e norte de Espanha que se revelou muito rica de ensinamentos que proporei para análise e reflexão aos leitores em próximas janelas do nosso Mosaico Cultural.

14/08/2024
 

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