Edição nº 1880 - 29 de janeiro de 2025

José Dias Pires
INDETERMINAÇÕES ALBICASTRENSES

Arejemos este ambiente poluído para onde nos querem empurrar.
Espero que com alguma graça, porque em Castelo Branco é fundamental que saibamos sorrir.
No nosso burgo albicastrense está a chegar o tempo das grandes indeterminações.
Importa, pois, clarificar, com as mais importantes das importâncias, quais são as indeterminações finais e transitadas da nossa pequena pátria.

Indeterminação nº 1 - A Presidência Albicastrense.
As grandes indeterminações de qualquer Presidência são:
- A Residência, que nunca se consegue definir qual é, e muito menos saber se é definitiva, o que obriga a quem compõe a comitiva presidencial a estar permanentemente em movimento;
- A Resistência (física e emocional) que ajude a suportar todas as ausências forçadas ou intencionais no lugar pátrio.

Indeterminação nº 2 - A Governação Albicastrense.
As grandes indeterminações de qualquer Governação são:
- A Predisposição, porque nem sempre um cidadão predisposto a ser empurrado é a personagem mais indicada para ocupar uma tal função;
- A Metodologia da Avaliação Indicativa (o mesmo é dizer: as provas de avaliação oral e escrita) que coloca a seguinte questão: deve, quem governa, ser eleito por toda a comunidade ou nomeado por uma qualquer ex-presidência quase-aqui-nascida de entre os cidadãos com mais apetência (que não obrigatoriamente competente) para a função?

Indeterminação nº 3 - Os Espaços de Trabalho e de Lazer.
Eis duas das mais intrigantes indeterminações que hão de perpetuar-se pelo tempo fora: Espaços de Trabalho e de Lazer - de facto, quem ou o quê determina onde começam e onde terminam? Acontecem ao mesmo tempo ou são inconciliáveis? Poderá o espaço de trabalho transformar-se em tempo de lazer? Alguém imagina o tempo de lazer transformado em espaço de trabalho?
Olhando para os nossos conterrâneos (por princípio) amigos ou, quiçá, apenas conhecidos, e para os seus (muito queridos) inimigos, sinto-me incapaz de estabilizar estas indeterminações.
É por isso que na nossa pequena pátria se tem entendido ao longo dos tempos (para o bem de todos e o mal de alguns) deixar estas perguntas em aberto.

Indeterminação nº 4 - Os Limites do Disparate e as Fronteiras da Parvoíce.
Entre o que o coração empurra e a cabeça trava, manda o bom gosto albicastrense que se deixem os limites do disparate rodeados pelas indeterminações geradas pela sabedoria e razoabilidade em geral, para as quais cada um dos albicastrenses e quase-albicastrenses deve estar capacitado de forma a não ultrapassar os Limites do Disparate.
Recomenda-se maior cuidado quanto às indeterminações geradas pelas Fronteiras da Parvoíce que são: o Absurdo Absoluto de gritar ou berrar sem qualquer sentido (só porque os apetites dizem que sim); o Patético Disparate da Submissão Palerma aos Albicastrenses Instantâneos e de Conveniência (logo muito exteriores a nós e à nossa comunidade e sem nada que a eles nos liguem) e à tentação de ataque às Aves de Arribação que para aqui vêm fazer o que não queremos nós assumir; o Ignorante Despropósito Não Albicastrense de julgar que quanto mais alto se grita ou berra, mais proveitos se conseguem (embora quase sempre em foguetes de lágrimas ou textura de farófias - bazófias, como diziam as nossas avós).

Indeterminação nº 5 - O Monte do Gritar Berrado (Também conhecido por Cume dos Recados Limpos e dos Boatos Sujos).
Não sei se sabem, mas na nossa pequena pátria há um monte cujo cume (onde os ares são - por princípio - límpidos), é muito difícil de atingir sem se ter sobrevivido às mais indeterminadas das indeterminações: o grito e o berro.
E Gritar Berrado é exatamente o nome desse monte, também conhecido por Cume dos Recados Limpos e dos Boatos Sujos, da qual, quase todos nós, apenas conhecemos as vertentes a norte e a sul, dado que as vertentes a este e a oeste são precipícios longos, forrados de lâminas polidas e pontiagudas de espelhos facetados.
A face norte do monte do Gritar Berrado é pedregosa e resvaladiça, pois ora está cheia de musgo (que, sendo belo, é escorregadio) ora está coberta de pequenas pedras multicolores e redondas (que sendo interessantes são muito resvaladiças).
Chamam-lhe, e com razão o Lado dos Boatos Sujos, onde o eco facilmente se reproduz em mentiras repetidas, escorregadias e redondas (há também quem lhes chame, numa linguagem mais vernácula, o Lado das Caganças).
A face sul do monte do Gritar Berrado é verdejante, tem veredas seguras, miradouros deslumbrantes e quedas de água cristalina. Todos os anos por lá passeiam muitos casais de Albicastrenses de Estimação, acompanhados de filhos ou netos, e onde por lá estacionam e fazem os seus ninhos muitas Aves de Arribação.
Por ser tão bela, dá para desconfiar: tratar-se-á de uma miragem ou de uma vontade inatingível?
Chamam-lhe o Lado dos Recados Limpos, e dizem que por ali todos conversam (sem gritos nem berros) olhos nos olhos e sem rancores ou outros maus humores.
Ora, como uma república como aquela em que vivemos é, na sua essência, uma faca de dois gumes, um ciclo de luz e sombra e uma repetição permanente de contradições entre o sim e o não, deixamos estas indeterminações finais nos gritos, berros e falar tranquilo que rodeiam o monte do Gritar Berrado, para que a escolha qualificada e consciente dos cidadãos desta nossa pequena pátria albicastrense lhes permita sempre ter o princípio universal das muitas leituras e o direito inalienável da interpretação, isto é: ver claro nas situações mais escuras e decidir em conformidade.
Digo isto sem qualquer receio de errar, porque estou habituado a observá-lo nos meus amigos albicastrenses e quase-albicastrenses que tanto me honram ao ter-me aceite com um dos seus albicastrenses de estimação porque sabem que nunca serei um albicastrense de conveniência por ser um albicastrense enraízado.

29/01/2025
 

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