PROTOCOLO ASSINADO ENTRE A CÂMARA E A FAMÍLIA DO ARTISTA
Obra de Bertino Cordeiro passa para as mãos da Câmara
O protocolo de cedência em depósito à Câmara de Penamacor da obra de Bertino Cordeiro, pela família do artista, foi assinado dia 28 de março.
O espólio cultural e artístico do autor, composto por pinturas, esculturas e demais instalações artísticas, será, agora inventariado, ficando a Câmara com a responsabilidade do guardar, integrar, preservar, arquivar, divulgar e disponibilizar para consulta, além de zelar, preservar e tratar a referida coleção.
Durante a assinatura do protocolo, o presidente da Câmara Penamacor, António Luís Beites Soares, lembrou a “obra extraordinária” de Bertino Cordeiro, recordando que o espólio cedido tem agora de ser analisado para que se possa dotar o Município de condições para que o mesmo seja divulgado e preservado com a dignidade que merece. António Luís Beites Soares realçou que o espólio “é extenso e valioso” e avançou que “temos que realizar uma avaliação para perceber exatamente a amplitude e as condições que temos que criar”.
Já Ana Lencastre, em representação da família, afirmou estar agradecida pela assinatura do documento sublinhou que “não fazia sentido a obra ficar entregue a uma pessoa. Merece ser divulgada e creio que faz todo o sentido ser em Penamacor, pela ligação à família. Apesar de ter ficado em Paris, Bertino Cordeiro gostava muito de Penamacor”.
Bertino Nascimento Cordeiro nasceu no Porto, em 1928. Tinha nome de compositor mas, no entanto, tornou-se um exímio pintor e escultor de música da tradição europeia, contando no fim da vida com cerca de 16 mil obras. Iniciou a sua obra em 1959, realizando a sua primeira exposição individual, no Ateneu da cidade do Porto. Mudou-se para Paris nesse mesmo ano de 59, tornando-se bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Terminada a bolsa, que teve duração de um ano, decide prolongar a sua estadia em Paris. Apresenta os seus trabalhos em Estocolmo numa viagem de visita aos países nórdicos, em 1967, e de seguida em Londres, onde a sua pintura é reconhecida e começa a ser adquirida. Numa iniciativa do historiador Joaquim Veríssimo Serrão, Bertino Cordeiro foi um dos convidados para a mostra 10 ans d’art portugais à Paris, 1960-1970, patente no Centro Cultural Português da capital francesa. A dedicação de Bertino Cordeiro levou-o a diferentes tipos de trabalho como desenho à pena, colagem, pintura, escultura em madeira e cerâmica, objetos, altos e baixos-relevos, entre outros, tendo criado várias instalações. Ao longo da sua vida, participou em numerosas exposições individuais e coletivas, em particular com o grupo Letrista, no qual se inclui parte significativa do seu trabalho artístico. Bertino Cordeiro expôs com nomes como Manuel Cargaleiro, Ângelo de Sousa, António de Assunção Sampaio, António Quadros, Artur Bual, Charters de Almeida, D’Assumpção, Irene Vilar, Mário Eloy, entre outros. Entre as exposições realizadas tanto em Paris como em Portugal, ao longo da sua vida, estão em 1958 a exposição no Salão do Turismo, em Coimbra; em 1964 exposição individual em Paris – Galeria La Laggia; no Centro cultura da Fundação Calouste Gulbenkian; em 1968 a exposição na Casa de Portugal com Manuel Cargaleiro; em 1969 a exposição individual na galeria Interforma e no Casino do Estoril; em abril de 1969 a exposição em grupo na Casa de Portugal, em Paris; e entre 1983-1986 no Salão dos Letristas em Paris, Grand Palais, onde apresentou um painel de 10 metros, uma enciclopédia dos compositores. Recorde-se que o pintor e artista plástico Português tinha raízes profundas em Penamacor, uma vez que os seus pais e duas das suas irmãs eram naturais da vila, com a qual manteve uma estreita ligação, passando lá grandes temporadas, até ir morar para Paris.