Antonieta Garcia
HÁ MUITAS MANEIRAS DE LHES VESTIR A BURKA...
I -Num contexto difícil, um poderoso mandarim permitiu-se, em reunião de vários Chefes de Estado, incluir no discurso, qualquer coisa como:
- Onde está ela? É tão bonita... Queria dizer-lhe...
Ela estava ali, entre os presentes, tentando ocultar-se. O dono, autor do presumível piropo esperou, em vão. Sem o assentimento da “bonita”, houve olhos a arregalarem-se, bocas a abrir e a fecharem...; o espanto entrou de rompante na sala onde continuavam reunidos muitos homens e poucas mulheres como sói acontecer, quando o poder se mostra...
O tirano teceu comentários inaudíveis. A senhora, discreta, brindou os presentes com um sorriso amarelo... Não houve televisão que não oferecesse, em vários noticiários, a descrição da cena...
II- Dias antes, este senhor alourado e ditador tinha vestido o bibe do Jardim de Infância e, como se de um jogo se tratasse, rematou:
- Se não aceitarem o cessar-fogo, mato-os!!!
Ouve-se e não se acredita! Lembrámos a sabedoria de Albert Einstein: “Não sei como será a Terceira Guerra Mundial, mas posso dizer-te como será a Quarta: Com paus e pedras.”
Ensinava: “A paz não pode ser mantida pela força. A paz só pode ser obtida pelo entendimento”.
A quem serve a guerra? Continuemos a ouvir Einstein: “O meu ideal político é a democracia, para que todo homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado”.
Einstein requer reflexão.
III – Regressemos, então, ao episódio impróprio do piropo. Inicie-se um exercício de ficção. Diz ela: - Onde está ele? É tão bonito... Queria dizer-lhe...
Uma mulher a falar assim? Isto é ficção. Impensável! Aposto singelo contra dobrado que nenhuma criatura do género feminino optaria por exteriorizar um elogio insosso dirigido ao protagonista imaginário: Por certo, a mulher, em diálogo com os seus botões, desvalorizaria a cena.
Optaria por remeter-se ao silêncio. Ignoraria a voz do senhor que muito mandava e tudo podia...
Ressentidos com a “degradação” do cenário, santos e anjos expressariam um incómodo intolerável... (Quem cala, consente – ou - Mulher honrada não tem ouvidos?)
IV – E... Há outra personagem marcada por aquela gestualidade inqualificável, de um parlamentar português, com uma boquinha enrugadíssima e lábios puxados e acompridados, a provocar uma senhora deputada... Tratava-se de um mimo mal-enjorcado que pretendia ser...o quê?
- Um beijo? Um beijo não era, valha-nos Deus...
Aos discernimentos expressos, para fazer face a esta comédia, um pangaio qualquer avançou com um fado canalha... Já a maioria, defendia que valia mais ensinar a este mandarim umas regras de protocolo, capazes de recuperar graçolas deste jaez...
Moral da história? Na verdade, a mulher ainda pertence ao mundo do silêncio. Inventam mil e um estratagemas para lhe tirarem a fala. Olhem o falatório que, neste momento, provocou o uso de burkas! Até os trajes que as isolam são um exemplo da intervenção totalitária no corpo e na alma das mulheres. Invoca-se o desejo de proteção, mas até o tamanho da saia entra na “fatalidade” do vestuário feminino.
Sabemos que o sabor do remédio para esta situação é intragável e pode ser perverso. Curar enfermidades e epidemias (disso se trata) seculares, exige consenso ... A tradicional Pandora já largou a caixa onde estavam todos os males... Talvez seja necessário recomeçar de novo a vida que bendizemos. É urgente inquietar os defensores que, só no século XXI, deram conta do uso de burkas, e perscrutam os seus objetivos. Quando despertarem, deixem cair a máscara de anjinhos papudos. É tão fácil usar o ferrete da perfídia, quando os sujeitos são mulheres...