Celeste Capelo
Então é Natal…
Diz a canção, que ainda este domingo o Orfeão de Castelo Branco cantou na Sé, no seu concerto de Natal.
Então é Natal, e o que Você fez, o ano termina, e nasce outra vez.
O ano termina, e não termina bem. O final do mês de Novembro foi recheado de notícias que, e por mim falo, nos causaram algum desconforto.
Quis a coincidência que recebesse a notícia da detenção do ex-primeiro ministro de Portugal a caminho de Toledo. Fora do meu País ainda se acentuou mais esse desconforto. As notícias internacionais falavam do caso.
Aquela cidade espanhola estava repleta de turistas, situação habitual, com certeza, pois toda a cidade, todas as ruas, falam de grandiosidade cultural e artística.
Neste final de ano em que a exposição das pinturas de El Greco estão ali expostas, comemorando o 400º centenário da sua morte, a quantidade de turistas é exponencialmente aumentada.
Rodeada de pessoas, dos mais variados locais de origem, que visitavam os mesmos lugares, sentia em cada um, um olhar estranho que aumentava ainda mais o meu desconforto.
O que você fez, diz o poema.
Recolhida por alguns momentos num lugar sagrado, percorri mentalmente o ano que vai findar.
É óbvio que nesse percurso incluí o que foi a minha vida, o que foi o meu País, o que se passou no Mundo: guerras, fome, epidemias, confrontos, corrupção, violência doméstica fenómenos atmosféricos preocupantes, enfim, um filme nada agradável ampliado pelos recentes acontecimentos que já atrás referi, e ainda a prisão preventiva de altos funcionários da administração pública, sem esquecer o caso BES.
Interroguei-me? Mas não haverá nada de bom que eu possa recordar? Tomei como inspiração divina a lembrança que me ocorreu da notícia de três homens que trabalham na recolha do lixo em Ponte de Lima.
Qual é a noticia, tão pouco divulgada?
Estes homens encontraram, no lixo que recolhiam, um embrulho, ou caixa que continha 4.000€. Dividido por três, caberia a cada um, mil trezentos e poucos euros. Certamente mais do que o seu salário mensal. Pois estes homens entregaram o que encontraram porque não lhes pertencia.
Que diferença!... Que atitude, tão pouco difundida na comunicação social!
Aqui cabe o verso do poema “O que você fez”.
Fiz, e registo este ato que revela valores que não estão totalmente esquecidos na nossa sociedade, sendo que, os mais responsáveis deveriam ser os primeiros a dar o exemplo.
É por isso que quero continuar a acreditar nas palavras do filósofo austríaco Karl Popper: “a democracia não oferece certezas, apenas oferece esperança: esperança de melhorar, de corrigir gradualmente males concretos, não de garantir perfeições abstractas”.
É com este sentimento de esperança que termino este ano, desejando a todos os leitores, redação e administração da Gazeta do Interior, votos de FELIZ NATAL, e próspero ANO NOVO.