Lopes Marcelo
Que Europa? E os povos?
No artigo do mês passado sublinhei que por estranho que possa parecer às gerações mais novas, que dão a paz e o progresso como adquiridos, foi necessário renascer das cinzas da II Grande Guerra. Nessa altura existiram actores, estadistas e povos que resistiram heroicamente e assumiram generosamente o reerguer da Europa. Esqueceram-se ódios e vinganças. Houve intérpretes do renascer solidário, políticos que perdoaram e apertaram mãos cheias de sangue de crimes horríveis para virarem a página mais obscura da nossa civilização. Considero incontornáveis pelo menos quatro dessas grandes figuras. O seu exemplo de vida e capacidade progressista e democrática de entender a história, constitui bandeira fecunda na defesa dos povos que é urgente levantar no presente.
WISTON CHURCHIL, Primeiro-ministro Britânico, foi a primeira voz a defender a criação dos «Estados Unidos da Europa». Acreditava que só uma Europa unida poderia assegurar a paz e eliminar as doenças do nacionalismo e da guerra. Quando, no auge da guerra, os generais lhe pediam que todos os recursos fossem aplicados na guerra e se cortassem as verbas para a cultura, não concordou. Respondeu com firmeza: se cortarmos com a cultura, com a nossa identidade e auto-estima, que sentido têm os sacrificíos? Para que valerá vencermos a guerra?
JEAN MONET, empresário muito respeitado. Durante a guerra colaborou com o governo francês e britânico no combate ao nazismo. Bateu-se pela coordenação da produção industrial da França e da Alemanha logo a seguir à II Grande Guerra. Em 1950 foi criada a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço que conduziu à União Europeia de que foi o primeiro presidente. Defendeu que os países europeus são demasiado pequenos para garantirem prosperidade e estabilidade. Fundou o Comitê de Acção para os Estados Unidos da Europa.
ROBERT SCHUMAN, político, advogado ilustre e Ministro dos Negócios Estrangeiros françês, é considerado o arquitecto do Projecto de integração europeia. Participou activamente na resistência francesa e foi preso. Fugiu para a zona livre e lutou contra o nazismo. Sem ressentimentos fez acordos com a Alemanha, entendendo que era preciso perdoar, valorizar e praticar o entendimento entre os povos, para construir um futuro solidário e de paz.
KONRAD ADENAUER nasceu na cidade de Colónia de que foi Presidente da Câmara muito jovem. Caiu em desgraça para o Partido Nazi que o demitiu por não ter decorado a sua cidade com as cruzes suásticas para a visita de Hitler. Depois da II Grande Guerra criou um novo partido, a CDU. Como Chanceler dedicou-se à reconciliação da Alemanha com os ex-inimigos, sobretudo com a França.
Que evolução teve a Europa até aos nossos dias? Que interesses defendem as actuais instituções e chefes dos partidos? Mais chefes de partidos do que líderes de países e dos respectivos povos? Para que serve e a quem serve o imenso e muito caro aparelho burocrático? Como se encaixa e funciona o enorme e caríssimo Parlamento Europeu?