21 maio 2014

Maria de Lurdes Gouveia Barata
Mistificações

- Disse que agora há uma «saída limpa» da troika e Portugal está melhor! Não sinto nada! Ainda vêm com mais cortes! E parece que são permanentes! E aumentam o IVA! Como podemos suportar tudo isto?! Já perdi a esperança! Reformei-me a pensar numa vida de paz e é isto! Continuo a ajudar o meu neto, sabe, aquele que se casou, e depois ficou sem emprego. E vamos ver a mulher dele… Está numa loja no Forum e ela diz que não devem renovar-lhe o contrato, vão sempre metendo outras novas, por causa dos compromissos. Isto é uma vida! Ainda bem que não têm filhos! Eles bem gostavam, mas não querem, porque não há condições…
- É o mal de muitos! Eu também já não tenho esperança. Nós as duas já morremos sem ver isto melhorar! Andam sempre a enganar-nos. Nunca mais ponho os pés nas eleições! São todos iguais…
Apeteceu-me explicar a esta senhora como era perigosa a atitude de não votar. Considerando desesperadamente que todos os políticos são iguais, será perpetuar os que têm tido mau desempenho. Não tinha adequação para intervir, a circunstância de ouvir por acaso tolhia-me a intromissão. Todavia, estas conversas tornaram-se banais, as de que Portugal está sem esperança por muito tempo. A conversa quotidiana aviva a tragédia que se vive no país. A caixa que Pandora fechou a tempo de guardar a esperança (depois de se terem libertado todos os males) deve ter sido aberta de novo… e parece ter ficado completamente vazia. Porém, temos de lutar para que haja esperança, porque é a esperança que tem de alimentar a perspectiva de futuro dos nossos filhos e netos, na crença de que «a comunidade pacífica de revoltados», como dizia Miguel Torga de Portugal no tempo da ditadura, possa acordar e saber elevar o protesto, por exemplo, utilizar a arma de voto para que se possa mudar, nem que tenhamos de votar várias e várias vezes.
Comecei assim por causa de uma conversa escutada, mas a minha intenção era fazer um comentário sobre uma carta dirigida a um jovem desempregado, enviada pelo Instituto de Emprego. Rezava assim: «Na sequência da sua inscrição para emprego, informamos que ainda não nos foi possível satisfazer o seu pedido de emprego. Se continuar interessado, queira devolver-nos este postal devidamente preenchido, no prazo de 10 dias a contar da data do correio. Se não responder procederemos à anulação da sua inscrição». A carta não tem data de correio (mas tem marca para empresa de correio azul). Dez dias a partir da data de correio?! No interior não há data! Mas tem de haver! Vamos ler lentamente: achámos! Do lado direito há um número longo a que se pega a data no final: 25 algarismos seguidos e logo de seguida a data de um dia de inícios de Maio.O jovem recebeu este aviso seis dias depois da data referida no interior. Como o prova?! Significa que, vindo timbrado de correio azul, deduzem que recebeu no dia a seguir? E poderão outros não ter recebido. E a resposta no tal postal destacável é encaminhada paraLisboa, sendo remetente o Instituto doutra cidade. Estranho! Deduz-se (e são pressuposições) que as centenas (ou milhares?) de desempregados que não responderem deixam de participar no número de desempregados? No caso que refiro já não há recebimento de qualquer subsídio. E lá vai a taxa do desemprego baixar! Boa mistificação? Mas, porventura (insiro a dúvida, porque não gosto de ser injusta) haverá muitos desempregados que continuarão a julgar-se inscritos no Instituto de Emprego, e, não respondendo a este aviso,  já não estarão inscritos… Será que estou a ser mal intencionada? Os tempos que correm levam-nos à desconfiança…Foi Abraham Lincoln quem disse: «Podeis enganar toda a gente durante um certo tempo; podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo; mas não vos será possível enganar sempre toda a gente.» A desconfiança tomou conta dos portugueses…

21/05/2014
 

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