São inúmeras as personalidades, de diferentes sensibilidades, a caracterizar o Governo de Passos Coelho como o mais conservador, retrógrado e preconceituoso dos últimos 40 anos, para quem o Estado é um empecilho, as pessoas são um enorme fardo e a democracia uma grande chatice.
Por isso, as comemorações dos 40 anos do 25 de Abril por parte do Governo e da maioria que o suporta, só pode significar, aos olhos da maioria dos portugueses, um profundo equívoco.
 Num exercício indecoroso e ofensivo para os capitães de Abril, Pedro Lomba, esse ausente e desconhecido secretário de estado, lembrou-se agora, como muito bem sublinha Francisco Assis (Público, 17 de Abril), “num peculiar acesso de insanidade (…) atribuir ao presente Governo o estatuto de verdadeiro intérprete do espírito original do 25 de Abril”.
Pedro Lomba insiste agora, para gáudio de sua alteza - Passos, o incompreendido ­- reescrever a história, como se todos nós fossemos imbecis.
A ligeireza da asserção de Pedro Lomba está ao nível do modo como o Governo, de que faz parte, trata dos assuntos do país e se relaciona com os portugueses.  
A forma como os ministros se atropelam uns aos outros é a expressão mais visível de um Governo desnorteado, que não sabe o rumo que deve seguir e que a cada passo esconde a verdade aos portugueses. Num penoso e humilhante exercício de contradições, cuja confiança que deveria mediar a relação entre eleitores e eleitos já há muito se perdera, Passos e Portas, vão-se arrastando, cada um a seu modo, tentando evitar, qual deles, os maiores danos eleitorais.
A trapalhada à volta do relatório sobre a reforma das pensões que foi parar à secretária da ministra das Finanças e cujos especialistas convidados pelo executivo para estudarem a dita reforma, reagiram com total surpresa sobre a existência do dito, ou a ressurreição do célebre Guião de Reforma do Estado, adormecido desde o dia da sua apresentação, creio que em Outubro passado, e que agora Portas, à porta das eleições, agitou sem pudor, ou o plano rocambolesco do Governo sobre os cortes nas gorduras do Estado para 2015, que outro objectivo não tem senão o de ludibriar a troika, dizem bem da desorientação de um governo que Cavaco Silva insiste em manter ligado à máquina, a pretexto de uma suposta legitimidade democrática, mas que há muito perdeu a legitimidade política.
Para todos aqueles que se revêem nos valores de Abril, traduzidos, grosso modo, nos princípios da dignidade humana e na igualdade, e que transportaram consigo a modernização do país e o bem-estar dos cidadãos alicerçado na liberdade, no direito à educação, à saúde, à segurança social, entre outros, não poderão deixar de comemorar, de forma genuína, os 40 anos do 25de Abril.
Deste modo, dar-se-á testemunho de que os portugueses não se renderão aos devaneios ideológicos do actual Governo que, obcecadamente, com as suas políticas, tem vindo a empobrecer o país e a destruir o estado social.
As próximas eleições para o Parlamento Europeu, que se realizarão daqui a um mês, não poderão deixar de ser uma excelente oportunidade para traduzir o descontentamento e a revolta dos portugueses não só relativamente ao Governo do país, mas também à orientação política da Europa; de uma Europa cada vez mais egoísta e menos solidária; de uma Europa cada vez mais dividida entre países ricos e países pobres.
A mudança de rumo, quer no país quer na Europa, exige que cada um de nós não fique indiferente e participe, por conseguinte, na eleição dos nossos eurodeputados ao Parlamento Europeu.
É pois tempo, por imperativo de consciência, de dar a volta a isto!

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