5 março 2014

Valter Lemos
ESTE PAÍS NÃO É PARA NOVOS

Portugal tem 35% de desemprego de jovens até aos 25 anos. A média na EU é de 24%. Mas, de entre os jovens, a maior subida do desemprego tem vindo a ocorrer entre os jovens portadores de um curso superior.
Em 2013 a população ativa portuguesa teve menos 107,5 mil pessoas entre os 15 e os 34 anos, o que significa que muitas dezenas de milhares de jovens emigraram para outros países. A maioria destes jovens tinha habilitações superiores.
Esta situação e aceite pacificamente (e até parece que com alívio) pelo governo e infelizmente por algumas pessoas que nunca sofreram o flagelo do desemprego e vivem refasteladas na segurança dos seus rendimentos e nas mordomias do Estado ou de algumas empresas, mas, é, de todas, a mais grave consequência desta crise e desta governação.
Portugal é já hoje um dos países mais envelhecidos da Europa e o que tem a mais baixa taxa de fertilidade (mais baixo número de filhos por mulher) que é atualmente de 1,2. Só estes factos deviam acender todos os sinais de alarme, porque implicam a médio prazo uma completa desestruturação da sociedade portuguesa, para além do enorme agravamento das questões relacionadas com o financiamento de todo o sistema de segurança social. Por isso as políticas públicas deveriam estar fortemente centradas nas questões relativas à qualificação e ao emprego dos jovens e no apoio social às jovens famílias.
O que se passa parece infelizmente um filme de loucos. Todas as políticas se orientam no sentido contrário. Não há quaisquer políticas de apoio às jovens famílias ou de alguma positividade relativamente às jovens mães. Até o vetusto abono de família está a se objeto de cortes. As políticas de estímulo ao emprego de jovens pura e simplesmente não existem. O que existia antes foi pulverizado e apesar dos anúncios do governo sobre sucessivos programas e iniciativas, tudo não tem passado de conversa fiada, e que até mostra alguma falta de decoro, pois não atinge quaisquer resultados, como todos os jovens e todos os pais sabem.
As políticas de qualificação foram completamente destruídas, sem qualquer iniciativa positiva, por mínima que seja. Nos ensinos básico e no secundário crescem as reprovações e o abandono escolar, ao mesmo tempo que o tamanho das turmas e o despedimento de professores. A educação de adultos foi pura e simplesmente extinta e o que se passa na educação de crianças com necessidades especiais envergonha-nos a todos (menos aqueles que tanto protestaram quando do reforço das condições de inclusão nas escolas públicas e agora perante a exclusão forçada e o não-atendimento de milhares de crianças sem condições económicas, estão calados que nem ratos). No ensino superior a desistência dos alunos por falta de condições económicas não parece ter limites e a degradação financeira, científica e pedagógica a que o governo sujeita as universidades e os politécnicos é indiscritível. Agora também com a tentativa de criar cursos sem graduação somente para limitar o acesso dos jovens a formações superiores e garrotar a ação dos politécnicos, como ficou claro, para quem quis ouvir, na sessão sobre o ensino superior no interior do país, que decorreu no IPCB, com a presença do secretário de estado.
Mas também na política de ciência que tão bons frutos deu na produção de uma geração de jovens cientistas portugueses ao mais alto nível internacional, estamos condenados a uma apagada tristeza e uma vil ação. A sanha com que o governo atacou e cortou as bolsas de investigação tem um significado. O que o governo disse, engrossando a voz, foi: VÃO-SE EMBORA. ESTE PAIS NÃO É PARA NOVOS! E se foram qualificados ainda menos.
A ação deste governo tem-se caracterizado, como se sabe, por uma ação política brutalmente discriminatória para alguns setores da sociedade portuguesa: O interior do país, os reformados, os funcionários públicos, os pequenos empresários, etc., mas creio que as consequências mais negativas da sua ação se refletem nos jovens. Que país quer esta gente ao atirar borda fora a mais qualificada geração de toda a sua história?

05/03/2014
 

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