11 fevereiro 2015

Entre a poesia e o desenho
A mulher como polo concentrador

Os livros Outra Nudez e Voluptuário, que unem a poesia de Gonçalo Salvado e os desenhos de João Cutileiro, foram apresentados sábado, no Cine-Teatro Avenida, em Castelo Branco, no mesmo dia que foi inaugurada a exposição com os desenhos da autoria do escultor, que poderá ser visitada até dia 1 de março, na Sala da Nora.
Sobre a união entre a poesia e o desenho nesta duas obras, Gonçalo Salvado realça que é uma “fusão”, ao referir que “bem mais que uma ilustração, com o desenho associado à minha poesia, é um sublinhado e uma apetência de beleza, tendo a mulher como pólo concentrador”.
Gonçalo Salvado refere que “as próprias imagens do Cutileiro já estavam feitas ao modo que eu ia escrevendo a poesia” e noutra perspetiva sublinha que “existe a tradição da ilustração de poesia em Portugal, mas atingir este laço de coesão é raro, porque é preciso que duas pessoas tenham o mesmo universo”. Uma área em que o poeta afirma que “o meu universo, humildemente falando, é semelhante ao de Cutileiro”.
Com os olhos no futuro, Gonçalo Salvado revela que a próxima obra será “diferente destas” e explica que “será um livro que obedece a um projeto muito antigo que tenho, que é escrever um poema interminável, sem princípio, nem fim”, admitindo que se trata de um projeto “suicida”, porque “é muito difícil que algum editor o aceite”.

“A poesia é de quem
sabe fazer poesia”
Na apresentação das obras, Sousa Pires, que é o autor do prefácio de Voluptuário e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Nuno Álvares, em Castelo Branco, começou por recordar a sua passagem pela cidade, entre 1981 e 1987, ao garantir que “volto com grande agrado”, relembrando que teve aqui uma “vivência particularmente feliz e saí daqui com muitas saudades”, revelando mesmo que “se Castelo Branco fosse nos arredores do Porto, de onde sou natural, jamais sairia de Castelo Branco”.
Sousa Dias, que é autor de vários livros de Filosofia, relembra também, “no bom sentido, a cidade provinciana, onde toda a gente se conhecia e cumprimentava”, sendo nesta “vida provinciana onde comecei as bases daquilo que sou”.
Não perdeu também a oportunidade de recordar que foi em Castelo Branco que “fui colega e amigo de grandes personalidades culturais deste país”, referindo-se “ao maior dramaturgo português vivo, Vicente Sanches, conhecido como professor Pardal, que agora vive em Alpalhão”, acrescentando que “foi numa visita ao Museu, com Vicente Sanches, que me foi apresentado António Salvado, pai de Gonçalo Salvado, que foi meu aluno”.
Por tudo isso, Sousa Dias considerou que “este momento é muito especial para mim” e avançou que “este é um livro muito especial que vem na sequência de toda a obra poética”, confessando que, “para minha própria surpresa, dá um passo mais em frente e leva ou eleva a sua arte poética a uma contenção formal”.
Elogia a obra de Gonçalo Salvado pela utilização do “mínimo de palavras” e referiu-se a “uma ressonância muito forte entre estes textos e as haikai”.
Isto para de seguida realçar que “há muita coisa que passa por poesia, mas poesia que o seja de facto há pouco”, garantindo que “ser poeta não é quem quer. A poesia é de quem sabe fazer poesia”, realçando ainda que “a poesia só tem razão de ser se nos puser, no modo de palavras, coisas que não podem ser ditas de outra maneira”.
Sobre as obras de Gonçalo Salvado reforça que “com um mínimo de palavras rasga as próprias palavras” e fala também “nos belíssimos desenhos do escultor João Cutileiro”, deixando no ar uma pergunta, ao questionar “se os desenhos de Cutileiro são ilustrações dos poemas do Gonçalo, ou os poemas do Gonçalo são ilustrações dos desenhos de Cutileiro”.

“Poesia portuguesa fica
enriquecida com
o lado do Oriente”
Também Maria João Fernandes, que é poeta e crítica de arte da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), bem como a autora do prefácio de Outra Nudez, referiu que nestas obras de Gonçalo Salvado “a poesia assume formas muito curtas”, para realçar que “a par dessas poucas palavras há uma verdadeira torrente, um manancial quase infinito”.
Perante isto questiona “por que é que este fluxo não tem fim? Por que é que a palavra parece inesgotável?”, considerando que tal resulta de “ela se originar no arquétipo, ou seja, na mulher, o feminino como imagem da mulher, a alma, a luz”.
Considera igualmente que “a poesia de Gonçalo Salvado liga-se no conhecer. É uma forma de conhecimento” e falou na ligação à imagem, referindo que “a palavra evolui a partir da imagem. Isso vem do antigo e nunca se perdeu”, para concluir que “a poesia é um discurso verbal que é capaz de traduzir o intraduzível”.
Sobre a poesia de Gonçalo Salvado abordou ainda “o amor como celebração da vida. O que inverte a tradição ocidental da morte e vida”, pelo que com “a poesia de Gonçalo Salvado a poesia portuguesa fica enriquecida com o lado do Oriente”.
Presente no lançamento das duas obras, o presidente da Câmara de Castelo Branco, Luís Correia, afirmou que “a poesia de Gonçalo Salvado entrou muito facilmente, através de muito poucas palavras”, destacando “a simplicidade dos textos que atuam com força e dimensão”.
Luís Correia mostrou também a sua satisfação “pela poesia que temos em Castelo Branco, por via de António Salvado e Gonçalo Salvado” e dirigindo-se ao último solicitou-lhe que “não esqueça nunca a sua terra”, recebendo como resposta que “nunca esquecerei”.

11/02/2015
 

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