Celeste Capelo
Je suis... je fus...
Je suis Charlie… Eu sou Charlie enquanto defensora da liberdade de expressão responsável, que não agrida valores nem extravase o bom senso. Quanto a quem o faz, também sou livre de comprar, ou não; de ver, ou não, de divulgar ou não.
O Charlie Hebdo caricaturou situações graves e explosivas gozando com milhões de pessoas que mais não fazem do que viver a sua fé em paz e sossego. Quando o caricaturar incide em questões de convicção inferindo insultos, então a liberdade de expressão é extravasada. Mas isto nada justifica os bárbaros assassínios que foram praticados em França.
Je fus … Eu fui …
Eu fui contra, e contra o quê? Aquilo que já hoje os líderes europeus resolveram publicamente aceitar a revisão do acordo de Schengen. Esta convenção entre países europeus sobre uma política de abertura das fronteiras e livre circulação de pessoas e bens entre os países, tinha forçosamente de trazer consequências que infelizmente estão à vista de todos.
As fronteiras abertas permitem que pessoas e bens se introduzam nos países sem saber de onde vêm, o que fazem, o que vêm fazer.
Infelizmente temos tido exemplos mais do que suficientes tanto na questão de (in)segurança de pessoas, como na fraude de colocação de bens que circulam livremente por países e outros paraísos fiscais, tudo em nome da liberdade.
Liberdade que na minha opinião tem limites. Limites de decência, de respeito, de ofensa que, muitas vezes, e quando se escudam nos limites das regras democráticas que, por serem tão pouco explícitas, ninguém sabe onde começam e onde acabam.
Esta coisa de liberdades democráticas, porque é uma frase feita, deixa muitas dúvidas, e com mais dúvidas fico quando ouço na Rádio Renascença um ex-governante que, por acaso até foi ministro da justiça dizer, referindo-se a um caso mediático que a imprensa tem, a meu ver, explorado demais, e passo a citar: “a defesa do direito ao bom nome, à reputação, poderiam ser feitos mesmo violando alguns deveres legais, porque os deveres legais cessam também perante outros direitos das pessoas». Ao ser questionado sobre tão absurda afirmação repetiu, e cito novamente: “o direito de defesa mesmo que, repito, tivesse que violar normas, regulamentos, seja o que for, porque o interesse que está em causa é mais forte”.
Ora, estas afirmações são coincidentes com a prática dos grupos terroristas, autores da barbárie que se viveu em França nos últimos dias da semana passada.
Neste mundo tão inseguro é cada vez maior a necessidade de segurança, de regras, de normas e leis eficazes que, só por terem o título de democráticas não chegam. Afirmações destas em nada ajudam.