15 abril 2015

Maria de Lurdes Batista
Abril

Estamos em Abril e começou a Primavera há menos de um mês. Nos primeiros dias apresentou-se com fanfarronice de calor exagerado e depois veio o vento despenteando, cerceando hastes tenrinhas e chamando chuva para que os humanos não se entreguem a maus hábitos e não julguem que vão mais cedo para a praia. O famoso Abril em Portugal ficou de cara no chão de terra molhada da chuva que não veio a tempo e horas para os agricultores.
Abril perde ainda brilho com a publicidade que a televisão atira para dentro das nossas casas, avisando do mês do IRS e das datas a cumprir, embora se estenda a mão da DECO para apoio de preenchimento de formulários pouco claros no Portal das Finanças. Em Abril também cabem as notícias, que se arrastam de repetitivas, mas sempre novas notícias por alteração de números, de mais não sei quantos milhares a precisar de ajuda da CÁRITAS, do aumento da percentagem dos que não conseguem pagar a renda da casa ou responder ao compromisso da compra da casa, a notícia da idosa que morreu num corredor de hospital (e a idosa é apenas um exemplo)…
Todavia, vieram os coelhos (de chocolate) para proporcionar gostinhos de prazer efémero no quotidiano, que continua com os desempregados sem hipótese de deixar de sê-lo, com os angustiados de pobrezas envergonhadas, com os condenados por dívidas fiscais e de segurança social, com penhoras que a muitos põem na rua, desapossados de casa e bens. É o quotidiano português num país de baixa natalidade (desinvestindo no futuro), num país de envelhecimento progressivo, inquietando quem tão bem nos governa desde a Europa, que está preocupado com o próximo (os capitalistas próximos e afastados, integrando listas VIP para tudo), e levou Christine Lagarde a opinar (há cerca de dois anos) que «a longevidade é um risco financeiro». Quem os manda ser cínicos e estar contra a eutanásia?! Estou em crer, ouvindo as suas preocupações, que o melhor é obrigar a uma eutanásia em massa para não se correrem mais riscos… A homenagem é ao Deus-Dinheiro, retendo uma estância dum poema de António Luís Moita («Oração a Deus-Dinheiro»):
Condições, nenhuma ponho.
Vassalo de vós, Dinheiro,
sem vacilar  me deponho
- corpo inteiro –
a vossos pés, como um cão!
Mas eu estava a falar de Abril e fugiu-me a pena para estas penas, às vezes distraio-me. Voltemos então a Abril. Mais propriamente ao Abril em Portugal, que logo se enche do dia 25 – o 25 de Abril – apoteótico de esperanças e benfazejo no quotidiano português, porque se saboreou a liberdade, deixou de se recear o ouvido pidesco tenebroso atrás das nossas costas, acabou com miséria gritante e com um analfabetismo, muito conveniente, do povo – fez a grande diferença na saúde, na educação e no apoio social. Hoje, que já passámos para o século XXI, o 25 de Abril traz consigo uma saudade dum tempo de sonhos alimentados e traz a perda. Mas talvez tudo isto não passe de má língua, de falta de gratidão com aqueles que velam por nós ao lado de Merkel e Lagarde, pois parece que o país está melhor, as pessoas é que vivem pior…
O sol de Abril escondeu-se, envergonhado…

15/04/2015
 

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