Lopes Marcelo
Que Templários?
Nos últimos anos ganhou dimensão e impacto o certame designado por «Dias Templários» que agora voltou a ser realizado na zona do nosso Castelo. Trata-se de uma parceria entre as Autarquias Locais e a Associação Comercial, que envolve já um número muito significativo de associações, pequenas empresas, instituições culturais e de artesãos. É uma boa oportunidade de se valorizar a gastronomia e os produtos locais, atraindo milhares de pessoas e envolvendo-as em animações de rua mais ou menos impactantes, mais ou menos repetitivas. Tudo isto é positivo, numa espécie de feira medieval que altera e enriquece o ambiente social algo pesado dos nossos dias. Tudo isto pode ser realizado, como o é em tantas outras cidades e vilas do nosso país, sob as mais variadas bandeiras ou vertentes da história medieval.
Acontece que aqui em Castelo Branco foi escolhida a bandeira dos Templários, e com toda a propriedade e fundamento histórico atendendo a que a nossa cidade foi sede da Ordem dos Templários durante um século (de 1214 a 1314). Ora tal escolha representa uma grande responsabilidade se se quiser que tenha autenticidade, coerência e fidelidade histórica e divulgue junto da população (designadamente nas escolas) a decisiva acção fundacional dos Templários no reino de Portugal e em Castelo Branco.
Valorizando o desenvolvimento regional e local, no respeito pela vibração das raízes e pelos valores da nossa Identidade cultural, entendo que a revisitação da história não se deve limitar às celebrações ritualistas, repetitivas e de impacto comercial. Há muito mais nos Templários, na coerência dos veios da memória histórica, do que as pesadas armaduras, o tilintar das espadas e as sinistras figuras de brutos guerreiros mata mouros que até podem dar a imagem errada e nada pedagógica de que se tratava de um grupo à parte, secreto e tenebroso que pouco teriam a ver connosco e com as nossas origens. E afinal tiveram muita influência, quer no país, quer na região e na cidade. De facto, a acção dos Templários no governo dos territórios que povoaram foi múltipla: conquistavam e defendiam as terras, administravam os povoados, extraíam minérios, contruíam castelos (como foi o nosso) e igrejas, moinhos, alojamentos e oficinas. Fiscalizavam o cumprimento das leis (os forais) e desenvolveram o conhecimento da medicina, da astrologia e da matemática. Os seus Mestres, a partir de D. Gualdim Pais deixaram marcas profundas em toda a Beira Baixa e na nossa cidade. Existem, assim, variados e ricos ângulos, temas e perspectivas de abordagem sobre os Templários e a nossa história medieval, que poderão enriquecer as futuras realizações dos Dias Templários em Castelo Branco. Assim o queiram saber e o saibam querer os decisores autárquicos e associativos, planeando de forma aberta e ouvindo e recebendo colaboração (designadamente da Comenda Templária de Castelo Branco) e, depois promovam a realização de forma participada, a bem da evolução qualitativa e da coerência histórica. Tal evolução, contudo, continuará a ficar comprometida enquanto se auto - satisfizerem com a repetição ano após ano de eventos e animações em parte significativa adquiridos fora do concelho, formatados em outras cidades, regiões e histórias. Para memória futura, aqui fica um contributo construtivo e empenhado em termos de cidadania cultural.