18 de novembro de 2015

Lopes Marcelo
Vivó nosso! E zurra no vosso!

Em mais um ano, o Verão de São Martinho, favorece o desencadear das tarefas da safra da azeitona. Até há poucos anos a colheita da azeitona constituia um ciclo cultural cheio de significado económico e social. Embora existam cada vez menos grupos, ranchos ou camaradas que ao som convocador do grande búzio se juntavam, é muito significativa a riqueza etnográfica de tais tarefas pelo seu cunho de originalidade no território de toda a Beira Baixa e pelo facto de os olivais serem dominantes na nossa região.
Na cultura rural, a oliveira, árvore sagrada, era já de grande importância na antiguidade. É muito resistente e bem adaptada aos nossos solos graníticos pouco ricos. A sua importância económica e social é da maior relevância originando produtos de genuíno artesanato produtivo, quer a azeitona de conserva (retalhada ou doce) e em saborosa pasta, quer o fino azeite tão importante na iluminação, alimento rico e equilibrado e como óleo de beleza.
Do ponto de vista dos usos e costumes, da nossa memória, ou seja da Identidade das nossas terras, depois da Feira de Todos-os-Santos, os ranchos ou camaradas saíam e regressavam dos povoados ao toque do búzio em alegre algazarra. Quando encontravam outros ranchos, davam “vivas” ou “zurras” (ditos tolos ou zombeteiros ao desafio). De um grupo gritavam: “Vivó meu e zurra no teu. Vivó meu qu´é melhor có teu! E do outro respondiam: ”Vivó nosso e zurra no vósso. Vivó nosso qu´é melhor có vosso!”
Também era costume fazer-se oferta de um ramo de oliveira, enfeitado com flores silvestres, com dedicatória em verso efectuada pela moça mais formosa, penhorando o patrão quando visitava o olival:
Tome lá esta penhora
Criada em noite bela.
Fica o senhor penhorado
Pela mão de uma donzela.

Aqui vai este raminho
Flores leva em botão.
Não vai muito à minha vontade
E como merece o nosso patrão.

Aqui lhe vimos oferecer
Este lindo raminho.
As mulheres querem papas
E os homens vinho.

Terminada a “refrega” (período de colheita para o mesmo patrão), o fim do último dia era de festa, onde era servida a abastada “ceia da azeitona”, não faltando as batatas com bacalhau, as papas de carolo de milho e a boa pinga caseira. Seguiam-se jogos de roda e o bailarico ao ritmo da concertina, acordeão e realejo. E cantava-se:
A azeitona galeguinha
Vai correndo ao lagar.
É como a moça bonita
Que todos lhe vão falar.

A azeitona cordovil
Deita o azeite mais claro.
Alumia todo o ano
À Senhora do Rosário.

Verde foi meu nascimento
Eu de luto me vesti.
Para dar luz ao mundo
Mil tormentos padeci.

19/11/2015
 

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