O bordado de Castelo Branco entre a tradição e a modernidade
Centro de Interpretação deve estar a funcionar dentro de um ano
O Centro de Interpretação do Bordado de Castelo Branco, que ficará instalado na antiga Biblioteca, no Largo de Camões, na Zona Histórica da cidade, deverá estar a funcionar dentro de um ano. A garantia foi deixada pelo vereador da Cultura da Câmara de Castelo Branco, Fernando Raposo, no decorrer da iniciativa Preservar e Inovar para Valorizar o Bordado de Castelo Branco, promovida pela Câmara de Castelo Branco, em parceria com o Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB), o Museu Francisco Tavares Proença Júnior e a Associação de Desenvolvimento da Raia Centro Sul (ADRACES).
A iniciativa, que teve início segunda-feira e termina hoje, quarta-feira, foi desenvolvida com o objetivo de encontrar novos caminhos para promoção do Bordado de Castelo Branco, aliando tradição e modernidade e que conta com a participação, entre outros, dos estilistas José António Tenente, Maria Gambina e Nuno Gama, que ontem, terça-feira, e hoje, quarta, participam em workshops subordinados ao tema O Bordado na Moda.
Na sessão de abertura Fernando Raposo, vereador da Câmara de Castelo Branco, recordou que a iniciativa foi antecedida, em 2008, pelo projeto Ex-Libris, para avançar que o objetivo é “a criação do Centro Interpretativo do Bordado de Castelo Branco, com as valências oficina e escola, que existiam no Museu Francisco Tavares Proença Júnior”.
Fernando Raposo referiu ainda que “a oficina já está a funcionar, no antigo edifício dos CTT” e realçou que “iremos ter um centro de interpretação, uma área expositiva”, sendo que o projeto também passa “pela certificação do Bordado de Castelo Branco”. Um objetivo que segundo adiantou deverá estar concluído dentro de um ano, com o Centro de Interpretação a ficar instalado no edifício da antiga Biblioteca, no Largo de Camões.
Também presente na sessão o presidente da Junta de Freguesia de Castelo Branco, Jorge Neves, realçou que o Bordado de Castelo Branco “é uma das questões mais arreigadas do nosso património”, pelo que “esta iniciativa é uma intenção muito importante, para valorizar ainda mais o Bordado”.
Jorge Neves reforçou que o Bordado de Castelo Branco “é um produto que é um dos mais nobres que temos”, de onde “temos que o preservar e inovar”, referindo-se ainda “à adequação às novas solicitações, aos novos produtos e às novas ideias”.
Já a diretora do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, Aida Rechena, fez questão de salientar que em relação ao Bordado de Castelo Branco “temos duas faces importantes, que são as bordadoras e os jovens, que se não se dedicarem a esta arte, ela acabará por desaparecer algum dia”.
Uma história
de séculos
O Bordado de Castelo Branco tem uma história secular, como referiu a investigadora Ana Pires, que fez questão de deixar bem claro que esta era “uma atividade masculina, até ao Século XIX”.
Ana Pires referiu que o relançamento do Bordado de Castelo Branco está ligado à inauguração da Linha da Beira Baixa, em 1893, com a vinda a Castelo Branco do Rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia. Na altura no Palácio dos Viscondes de Portalegre (ex-Governo Civil), “foram arranjadas salas para os aposentos deles, sendo que as salas foram todas forradas com Colchas de Castelo Branco, o que a Rainha muito admirou”.
Nessa ocasião, adianta, “foi dito à Rainha que era uma indústria já extinta e foi nessa altura que, pela primeira vez, António Roxo, falou das Colchas de Castelo Branco”.
Ana Pires referiu que só “mais tarde, em 1929, com o Congresso Beirão, é que Júlia Antunes, num artigo sobre rendas e bordados da Beira, escreve pela primeira vez no Bordado de Castelo Branco”.
Já depois disso, “um dos diretores do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, Manuel Paiva Pessoa, é que escreve dois artigos sobre as Colchas de Castelo Branco”.
É também por essa altura que é instaurado o Estado Novo “ e com ele são criadas as condições para relançar um produto identitário como o Bordado de Castelo Branco”.
Um processo em que “estão envolvidos dois nomes incontornáveis. A senhora Piedade, que é de uma família do Estreito, que borda e que ensina, e o padre Ribeiro Cardoso”.
Entretanto, “na Mocidade Portuguesa é criada uma oficina de Bordados de Castelo Branco, que em 1976 é incorporada no Museu”.
Por outro lado, “no início dos anos 50 é criada uma grande oficina, a Casa Mãe, de Eliseu de Sousa”, continuando assim o processo de relançamento do Bordado de Castelo Branco, que Ana Pires faz questão de deixar bem claro, que “não era doméstico, não era individual. Era profissional”.
Tudo, para concluir que este “é um bordado magnífico e vale a pena intervir sobre ele, mas é preciso estudá-lo mais”, defendendo que “se intervém tão melhor, quanto melhor se conhecerem os seus protótipos”.