30 de setembro de 2015

Relatos de uma viagem à China
O apelo do misterioso Oriente

Os motivos para aprender mandarim multiplicam-se nos dias de hoje: a China é a segunda maior economia e o país mais populoso do mundo. O império do meio, que na tradução do mandarim significa ”meio/centro” e  guó “nação/império”) transformou-se numa potência determinante no novo panorama geopolítico e económico. Em suma, saber chinês é tão interessante quanto necessário para interagir com um quinto da população mundial.
Pessoalmente, acho a China irresistível porque se trata da civilização viva mais antiga do planeta. Foi por isso com um misto de encantamento e apreensão que rumei a Zhu-hai, no sul do país, para o curso de verão da Universidade de Sun Yat-sen. Regra geral, começa-se por visitar a capital. Portanto, o meu primeiro contacto com o gigante asiático foi em tudo atípico.
Mais do que uma oportunidade de aperfeiçoar o meu tímido chinês, esta foi uma viagem para compreender outra forma de ver o mundo, para conhecer melhor um povo que adora selfies, que vive sem Facebook, que fica fascinado com os estrangeiros, os estranha e os fotografa, muitas vezes sem pedir permissão. Compreender significou comer com pauzinhos pratos muito amargos ou picantes, ir a uma KTV party, regatear no mercado aquela fruta cuja casca parece escamas de dragão, arder incenso num templo budista...
Zhuhai significa mar de pérolas porque é aqui na província de Guangdong, onde os portugueses chegaram no século XVI, que o rio das Pérolas desagua no mar. É uma pequena metrópole para os padrões chineses, com cerca de um milhão de habitantes, muitos espaços verdes e uma longa costa, salpicada por 146 pequenas ilhas.
O símbolo turístico da cidade fica na “estrada dos amantes”. A gigante mulher de granito tem os braços levantados para o céu numa oferenda: a pérola que a mulher-pescadora carrega, diz-se, traz luz ao mundo. Na verdade, o monumento apenas foi construído em 1982, inspirado numa rebuscada lenda local.
Outra visita obrigatória é o Novo Palácio de Yuan Ming, uma réplica do longínquo Palácio de Verão de Pequim. A ideia foi recriar parte do grandioso complexo de jardins e palácios de Yuan Ming (cinco vezes maior do que a Cidade Proibida), parcialmente destruído durante a segunda guerra do ópio. Aliás, é bem conhecida a tendência chinesa para copiar em vez de criar, fazem réplicas de Rolex e malas Prada mas tive dificuldade em encontrar uma loja de roupa tradicional. E nem me quero lembrar do pastel de nata made in China que provei... A civilização chinesa já não é a mesma que inventou o papel e a pólvora.
Voltando ao palácio, perturbou-me a sua clara orientação comercial, em detrimento de uma contex- tualização histórica. Emoldurado por grandes montanhas verdejantes, o espaço está dividido em três áreas. A primeira inclui o portão da Retidão e da Honra e o palácio onde se resolvia assuntos de Estado, onde uma placa apela ao empenho imperial num “governo diligente e talentoso” (da autoria do imperador Kangxi).
Na segunda estão os aposentos privados do imperador, chamados “nove continentes de clareza e calma”, com vários edifícios voltados para o Lago Fuhai. E a terceira área tem claras influências do barroco, revelando a curiosidade de alguns governantes Qing para com os ocidentais.
Apesar do potencial do recinto, não existem folhetos informativos e somos constantemente interpelados pelos vendedores de fotografias. O preço depende da personagem, sendo os trajes de imperador e imperatriz obviamente mais caros. Escolhida a indumentária, passa-se pela caracterização: existe uma pequena penteadeira para aprumar o penteado e a maquilhagem. Escusado será dizer que quem não compra a mini sessão fotográfica não tem acesso ao trono ou outros lugares especiais.
Ao lado do palácio – na verdade não existe qualquer separação física – fica a Lost City, um parque de diversões com carrosséis, escorregas de água e souvenirs baratos, que acaba com qualquer estado zen.
A cidade de Zhuhai registou um crescimento significativo nos últimos anos, a construção continua em ritmo acelerado e o consumo está lá nos píncaros. Esqueçam o ideário marxista sobre a justa distribuição da riqueza. Política é política e economia é economia. Conduzir um Porsche na China já não é visto como um vício do capitalismo.
Os centros comerciais multiplicam-se, bem como o comércio de rua, especialmente no bairro de Gongbei, repleto de lojas, restaurantes, barraquinhas de comida, bares improvisados... Muitos homens de negócios terminam aqui o dia, a beber, a jogar aos dados e a gracejar com as raparigas da noite.
Aqui fica também um gigantesco centro comercial subterrâneo, um paraíso da contrafação que evoca no nosso imaginário um bazar marroquino de corredores labirínticos, onde é essencial a fina arte do regateio (que infelizmente não domino mas, ainda assim, diverti-me a tentar). Ali ao lado, fica Macau. Mas sobre esta outra China, de influência portuguesa, falaremos noutra altura.
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Ruthia Portelinha

01/10/2015
 

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