4 fevereiro 2015

NA SALA DA NORA DO CINE-TEATRO AVENIDA, EM CASTELO BRANCO
As obras de Gonçalo Salvado e João Cutileiro

Os livros Outra Nudez e Voluptuário, com a chancela Edições CRL/Escultores de Livros, de Évora, que juntam a poesia de Gonçalo Salvado aos desenhos do escultor João Cutileiro, com grafismo de Henrique Lagarto, designer gráfico responsável pelas edições e catálogos de João Cutileiro, são apresentados sábado, a partir das 16 horas, na Sala da Nora do Cine-Teatro Avenida, em Castelo Branco.
A apresentação será feita por Sousa Dias e Maria João Fernandes, autores dos prefácios.
Sousa Dias escreve no prefácio de Voluptuário que “é neste contexto de poesia lírica pós-modernista, e como uma das suas vozes mais puras e cada vez mais depurada, que nos interpelam os poemas de Gonçalo Salvado. Voluptuário é já o décimo livro de poemas, o opus 10, deste poeta exterior aos circuitos académicos e mediáticos de reconhecimento literário, ele próprio filho de outro notável poeta, António Salvado, também exterior a esses circuitos.
Desde o primeiro livro que o tema do autor é o mesmo, que todos os poemas são, de certo modo, um só poema, ou poemário, insistente, insistentemente reescrito, cinzelado, perseguido: Eros, a transcendência poética de Eros na sua própria consumação imanente.
Cada poema o mesmo poema de Amor absoluto, do Amor como a essência afetiva invivível de todos os amores vividos e vivíveis, como o invivível que é, no entanto, aquilo que se vive. E por conseguinte o poema como um dizer expressivo do indizível de toda a paixão amorosa. Sempre o lirismo foi a expressão poética de um êxtase, de um pathos, de uma passionalidade infinita como emoção, movimento ou arrebatamento, feliz ou infeliz, do sujeito para fora de si.
Na poesia luminosa de Gonçalo Salvado esse movimento extático afirma-se como um fora de si feliz, voluptuoso (cf. título deste livro), como uma forma sublime de embriaguez do sujeito poético, o que explica a recorrência, em toda esta poesia e neste novo livro em particular, de metáforas como o vinho, um licor, um néctar, uma taça, beber…
Ninguém entre nós transmite como Gonçalo Salvado de um modo tão simples, com tão poucas palavras, essa embriaguez lírica, essa emoção só possível na poesia ou pela poesia”.
Por seu lado, Maria João Fernandes, no prefácio de Outra Nudez, realça que “na poesia de Gonçalo Salvado, na torrencial, estelar, vulcânica irrupção do ímpeto amoroso, a palavra tem o fulgor cosmogónico de uma aparição, fundem-se todos os hinos de amor da humanidade irradiando com o esplendor do Paraíso que os viu nascer: o Cântico dos Cânticos, o Rubayat de Omar Khayyam e a poesia dos grandes poetas que ele evoca, Ibn Hazm (O Colar da Pomba), Blake, Whitman, Gustavo Adolfo Bécquer, Tagore, Yeats, Éluard, Octavio Paz, Eugénio de Andrade, David-Mourão Ferreira.
Poetas de um novo sentimento amoroso, visionários, como visionária é a sua palavra, nascida e aquecida ao fogo perene de uma realidade que não se esgota, única verdadeira essência de uma Vida finalmente completa pela união total das suas metades, o feminino e o masculino, a matéria e o espírito, a noite e o dia.
A poesia de Gonçalo Salvado enriquece o grande filão do lirismo português com o luminoso halo do Oriente, fundindo a herança árabe tão do seu gosto, indiana e a tradição japonesa dos haicais, em “fórmulas” perfeitamente cinzeladas que substituem a lógica tradicional por uma outra que tem como padrão e única medida a ausência de medida, o infinito, como infinitas são a sede e a fome de amor. (…)
Assistimos verdadeiramente, nesta poesia, a um ritual cosmogónico sob o signo da amada, brilhando ao centro deste universo recriado pelo Amor, com o esplendor total do Arquétipo.
A palavra de Gonçalo Salvado revela ao centro da sua amorosa criação a figura da mulher, o feminino, celebração não do império dos sentidos, como apressadamente poderíamos julgar, mas do império da Alma, devolvida a si mesma e ao Universo (…)
A linha igualmente caudalosa de João Cutileiro, Mestre escultor, depurada e sensual é mais do que o contraponto plástico da poesia, ela vive a vida autónoma das imagens nascidas do amoroso diálogo das linhas captando e transfigurando o segredo das formas. E a verdadeira natureza desse segredo é o silêncio, ou a música, na floração de uma beleza feita dos adjetivos e dos pronomes, dos substantivos a tinta negra, irrupção dos gestos de uma certeza mágica, síntese da feminina intimidade do Cosmos. (…)
Na poesia de Gonçalo Salvado e no desenho de João Cutileiro a imagem do arquétipo brilha em uníssono, feminino eterno, na sua delicada e fragrante natureza de flor, na sua chama vacilante e perene, no sumptuoso veludo das linhas, no calor das formas, rodopiantes como um sol, astro de uma natureza de que é alimento de amor”.
Os desenhos que ilustram as duas obras estarão patentes até 1 de março, podendo ser vistos de terça-feira a domingo, das 14 às 19 horas.
Recorde-se que Gonçalo Salvado nasceu em 1967, em Lisboa, tendo residido toda a sua infância e a sua juventude em Castelo Branco. Licenciado em Filosofia, tem vindo a assumir-se como um poeta exclusivo do amor.
João Cutileiro, que é considerado o mais prestigiado escultor português da atualidade, nasceu em Lisboa em 1937. Vive e trabalha em Évora, onde, desde 1985, está exposta uma parte da sua obra.

04/02/2015
 

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