5 de agosto 2015

Valter Lemos
JORGE SAMPAIO E MARIANO GAGO

O primeiro homem a ganhar o prémio Nelson Mandela foi um português, Jorge Sampaio. O prémio, de âmbito mundial, foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2014, em honra dessa extraordinária personalidade que foi Nelson Mandela e destina-se a distinguir a contribuição excecional dos galardoados para os objetivos e princípios subjacentes às Nações Unidas e a dedicação a causas em prol do bem de toda a humanidade, na esteira da ação do próprio Nelson Mandela.
A importância da distinção é bem relevada, não só pela entidade que a estabelece (a ONU), como pela dimensão mundial da mesma, mas, é muito reforçada pelo facto de só ser atribuída de cinco em cinco anos!
Poucas notícias nos últimos anos me deram tanto orgulho como esta. O primeiro galardoado com tão notável distinção é um português.
Sendo certo que a notícia não passou despercebida em Portugal, com vários jornais e televisões a noticiar a entrega do prémio e também a sessão de reconhecimento promovida em Portugal na Fundação Calouste Gulbenkian, creio, no entanto, que a maioria dos meios de comunicação social não assinalou, tanto quanto me pareceria adequado, a relevância da distinção. Na verdade não me parece que um prémio desta dimensão nos diversos âmbitos (político, ético, moral, social, etc) seja menos significativo que um Nobel da Paz. Afinal os prémios de âmbito mundial atribuídos a portugueses em toda a história não são assim tantos… e sem desprestigiar Cristiano Ronaldo, que muito admiro, não é só no desporto que há portugueses com a distinção de melhor do mundo
Haveria com certeza outras personalidades merecedoras do prémio, mas, não tenho dúvidas que Jorge Sampaio é justamente uma delas e a escolha do comité da ONU honra uma carreira cívica e política da maior relevância. Sampaio é conhecido pelos portugueses como seu Presidente da República durante dez anos, tendo merecido uma admiração e um respeito enorme dos seus concidadãos. Mas, Jorge Sampaio tem, não só uma ação política notável em Portugal, mas, também uma ação internacional de grande dimensão como a presidência da Aliança das Civilizações e o mandato como representante especial do Secretário-Geral da ONU na Luta contra a Tuberculose.
Conheci pessoalmente Jorge Sampaio no final dos anos 90, quando aceitei, com satisfação e orgulho, um convite seu para o acompanhar numa “Semana da Educação” no norte de Portugal, atividade realizada no âmbito das suas funções de Presidente da República. Devo dizer que não só reconheci as suas já referidas qualidades intelectuais e políticas, mas também extraordinárias qualidades humanas, desde logo com uma presença e relação encantadora com todos os que o rodeavam. Mais tarde, como presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco, tive a honra de o ver aceitar o convite para visitar o Instituto no âmbito das comemorações dos vinte anos de existência, o que constituiu, até hoje, a única visita de um Presidente da República ao IPCB.
Jorge Sampaio merece, sem dúvida, a distinção que lhe foi atribuída, porque é uma figura excecional e exemplar da história da democracia portuguesa, agora reconhecida ao nível mundial. No meio da espuma que embebe constantemente a política e os media portugueses, e do frequente triunfo da mediocridade e da baixa política, este acontecimento mostra que, ainda assim, por vezes, consegue sobressair o triunfo da ação política e social centrada no interesse público e na retidão de princípios.

Mariano Gago e os 40 anos de política de ciência
e ensino superior
O ex-ministro Mariano Gago foi alvo de uma homenagem realiza do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, em que tive a honra de participar. A sessão incluiu, bem a propósito, a apresentação de um livro, com o título “40 Anos de Políticas de Ciência e Ensino Superior”, publicado pela editora Almedina, coordenado por Maria de Lurdes Rodrigues e Manuel Heitor e que conta com capítulos escritos por algumas dezenas de autores, entre eles o próprio autor deste texto com um capítulo sobre o ensino superior politécnico.
Para além de Pacheco Pereira, que fez a apresentação do livro e a intervenção de homenagem, várias personalidades usaram da palavra para dar o seu testemunho sobre Mariano Gago. Todos coincidiram na análise da adequação da apresentação de um livro sobre as políticas de ciência e ensino superior numa homenagem ao ex-ministro, dado que o mesmo é uma personalidade central daquelas nos últimos 40 anos.
Deve-se a Mariano Gago não só o desenvolvimento da reforma de Bolonha no ensino superior português, mas, principalmente a reforma do sistema científico nacional que permitiu a Portugal entrar verdadeiramente no sistema científico europeu e mundial e criou as condições para o aparecimento de uma geração de cientistas com uma qualidade nunca antes atingida e uma produção científica e tecnológica de nível internacional e de enorme importância para o desenvolvimento do país.
Tendo sido seu companheiro nos dois governos de José Sócrates, nem sempre concordámos e até tivemos algumas discussões mais acesas em alguns aspetos da política educativa, mas, tal respeitava a pormenores e não à conceção e orientação geral das políticas públicas que o Zé Mariano conduziu com resultados excelentes para o país. Não hesito em dizer que antes de Mariano Gago não havia política científica em Portugal e a própria ciência tinha uma expressão residual. Foi a sua ação que, no quadro de uma orientação geral para a modernização e o desenvolvimento dos governos que integrou, colocou a ciência e a tecnologia como fatores fundamentais do desenvolvimento do país. Não posso por isso deixar também de dizer quão lamentável é que alguns dos resultados obtidos tenham sido destruídos por uma visão errada e um ação reprovável do governo e do ministro que lhe sucedeu.

04/08/2015
 

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