9 de setembro de 2015

Helder Henriques
Quo vadis Europa?

Não me saí da cabeça a imagem daquela criança sem vida junto ao mar! Aquela criança e a sua família tinham um sonho…o sonho de ter uma vida melhor, o sonho de fugir da pobreza, o sonho de fugir à guerra, o sonho de chegar à Europa…uma Europa que não é o que pretende fazer crer que é, nem é o que essas pessoas julgam ser! Ainda assim, uma Europa onde podem aspirar a ter uma vida!
Este cenário de chegada ao continente europeu de milhares de refugiados que pretendem salvar os seus filhos – afastando-os da morte – deve constituir uma oportunidade para repensar todo o “espírito europeu”. Queremos uma Europa coincidente com princípios e valores humanistas? Ou pretendemos uma Europa fria, dura, sem sentimentos? Pretendemos uma Europa fechada sobre si mesma – onde alguns consideram solução levantar muros para evitar a entrada nas suas fronteiras destas pessoas? Ou pretendemos que a Europa seja, verdadeiramente, um continente que acolhe aqueles que a procuram em circunstâncias difíceis como aquelas que os meios de comunicação nos têm feito chegar? Que futuro para o velho continente que deixa morrer crianças que apenas fogem da desgraça e para a qual, certamente, não contribuíram?
Talvez seja o momento dos nossos governantes europeus pararem e pensarem que mais importante que as flutuações das Bolsas de valores de Frankfurt, Paris ou Londres são os valores da solidariedade, da amizade, da confraternização entre os povos, do saber receber e acolher! Aquelas pessoas procuram uma Europa da qual, provavelmente, pouco resta; mas talvez ainda estejamos a tempo de redesenhar o projeto europeu ancorando-o, verdadeiramente, menos à ditadura cinzenta do número frio e sem sentimentos; e, mais aos valores fundadores de todo o projeto político europeu da segunda metade da centúria de novecentos.
A este nível a sociedade civil portuguesa tem vindo a dar provas de ser solidária e recetiva ao acolhimento destes homens, mulheres e crianças. A disponibilidade que algumas autarquias, associações e famílias, em alguns pontos do país, já demonstraram constitui também um apelo ao desenvolvimento de uma atitude proactiva na integração de eventuais pessoas que possam vir para o território português! Talvez a chegada de algumas destas pessoas ao interior de Portugal constitua uma forma de ajudar a resolver alguns dos graves problemas demográficos com que nos deparamos!
Os portugueses sabem muito bem o que é sentirem necessidade de abandonar o país pelos mais diferentes motivos – entre a década de 60 (século XX) e o primeiro quartel do século XXI, particularmente estes últimos 4 anos, os portugueses procuraram muitas vezes melhores condições de vida fora do seu país. Por outro lado, os portugueses também sabem acolher. Recordemos, a titulo de exemplo, a chegada de meio milhão de pessoas retornadas das extintas colónias portuguesas e o seu processo de integração social, ou ainda a chegada de variadíssimas comunidades com origem no continente Africano, Americano e Europeu ao longo das décadas de 80 e 90 do século passado! Os portugueses conhecem bem estas realidades e sempre responderam: presente!
Quantas mortes, como a daquela criança que invoquei no começo deste texto, poderemos evitar? Espero, esperamos, que muitas! Mas isso só é possível redesenhando as configurações identitárias da Europa e construindo pontes e laços entre os povos. No final de contas, o problema que muitos encontram na chegada de milhares de pessoas ao continente europeu, pode vir a constituir uma oportunidade de redefinir a identidade, hoje cinzenta, do velho continente Europeu …
Quo vadis Europa?

10/09/2015
 

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