Celeste Capelo
As viagens e a cultura
Diz-se que viajar é também, além de descontrair, uma forma de aprendizagem em vários domínios daquilo que podemos chamar cultura ou as culturas. Definir cultura na sua mais abrangente definição e, adoptando a definição de cultura Antropológica podemos dizer que será “a totalidade dos padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano”, ou seja “Cultura é tudo o que o homem acrescenta à natureza”.
Este pequeno preâmbulo para reflectir sobre o que observamos no quotidiano dos nossos dias. Como viajavam os filhos com os pais?
As crianças viajavam acompanhadas pelos pais e eram solicitadas a observar o percurso da viagem.
? Olha ali o rio Tejo…, vejam estas árvores, quando viemos passar o Natal a casa dos avós estavam despidas. Como estão agora, lindas, cheias de folhas…, olha outra vez o rio, é o Tejo, já passamos por ele, onde? Vamos passar esta ponte, e vamos para a margem esquerda do rio… como se chama a ponte? Quem sabe? Aquelas ventoinhas gigantes, estão a ver? Servem para quê? Aquilo é um moinho de água, já não funciona, mas vimos um igual no museu do pão. Quem se lembra? O que é que o museu do pão tem a ver com o moinho de água? Ali aquele castelo, quem o mandou construir?....O relevo, a planície, a montanha eram também motivo de observação; a floresta, a lezíria, o minifúndio, o latifúndio etc., etc.
Aprendia-se de forma natural sem necessitar de grande esforço.
Enfim, a viagem parecia menos longa, aprendia-se geografia, formas de energia, botânica, história, educação ambiental e sobretudo havia diálogo entre pais e filhos, nestes momentos em que não há desculpa de não haver tempo.
Hoje as crianças mais novas viajam olhando para um ecrã de tablet onde desfilam desenhos animados. E que carantonhas feias têm as figuras destes desenhos! … Mais parecem seres imaginados de outros planetas.
Os mais velhos fazem jogos nos telemóveis e/ou nos computadores. Põem uns auscultadores nos ouvidos e fazem a viagem completamente alheados da paisagem e da presença dos pais. Nem noção têm, ou ficam, das distâncias entre localidades, nem as conseguem localizar a norte ou a sul e, numa determinada direcção, qual fica antes ou depois de…
É certo que hoje a descoberta ou informação sobre qualquer assunto fica ao alcance de um clique numa tecla, mas a diferença entre a informação on line e a observação directa é abismal.
Não vou deter-me nas consequências destes procedimentos, que configuram de alguma forma estados autistas, pois, já há vários estudos realizados por pessoas melhor habilitadas que eu.
Cultura é cultivar, e que formas de cultura se foram perdendo introduzindo as tecnologias, tão úteis, mas tão nefastas quando mal utilizadas.
É minha intenção apenas reflectir e proporcionar aos leitores da Gazeta do Interior, que o façam também.