17 de agosto de 2016

Maria de Lurdes Gouveia Barata
O SOL DESTE AGOSTO...

O sol é a estrela do nosso viver, causa e motivo, condição sine qua non duma Terra Mater que acolhe o homem e todas as manifestações de vida. Cultos do sol perdem-se na contagem dos anos e a festa pagã Natalis Solis Invicti (Nascimento do Sol Invencível) homenageava o deus do Sol Mitra, deus persa que os romanos acolheram. A festa celebrava-se no solstício de inverno, o dia mais curto do ano, anunciante do crescimento da luz, que progressivamente traria a primavera e a sua eterna renovação. A história do nascimento de Mitra, o significado da sua comemoração, eis motivos (entre outros, que não vêm agora a propósito) para fixar a data do nascimento de Jesus na data de 25 de Dezembro, cristianizando-se, assim, uma festa pagã.
Na simbologia de sol impregna-se a ideia de ressurreição e imortalidade, fonte de vida, fonte de luz, manifestando todas as coisas, proporcionando o dia a dia da vida, a própria beleza e a arte. Lembra-nos logo Apolo, deus brilhante e atraente que convoca a Beleza e a Inteligência, tudo o que de bom toca a sensibilidade humana. Apolo é também um deus do Sol.
Conquistar um lugar ao sol é um ditado que nos oferece a conotação positiva que a nossa estrela carreia.De sol a sol é o dia do nascer ao poente em que o homem trabalha pela sua sobrevivência, dimensionando-se negativamente quando, numa quadra popular que a memória agora não me devolve, o patrão seguraria o sol com um baracinho, se pudesse, para que os trabalhadores continuassem mais tempo… Em assunto de reputação igualmente a sabedoria popular deixa o registo: se queres ter boa fama, não te tome o sol na cama. Acrescento ainda o ditado gasto, o sol quando nasce é para todos e ainda hoje sorrio quando me lembro da saída duma prima, que transformou o ditado em anedota: o sol quando nasce é para todos… E durante o dia como é que é?!
O lado bom do sol liga-se a boa disposição, o sorriso torna-se solar para uma boa companhia de convívio em contacto positivo de optimismo. Porém, há também um outro lado do sol, quando dardeja abrasadoramente como neste verão. Temperaturas excessivas trazem o incómodo a que assistimos. Já uma vez invoquei aqui um texto de João de Araújo Correia sobre o verão em Trás-os-Montes e não evito agora recorrer a outro extracto do mesmo:«Com este calor, o fígado entumece, o apetite foge, o cérebro dormita. Parece que o mundo das ideias, das lembranças, o divertido mundo do conhecimento, parou dentro do crânio. Não se lê uma linha, não se escreve palavra nem cogita assunto. Golilhas de ferro em brasa, movidas por diabinhos, algemam os pulsos. / Toda a gente se sente morrer banhada em suor.»
O tempo do sol tornou-se motivo de apelos a cuidados por causa dos raios ultravioletas – e entraríamos ainda nas alterações climáticas que o homem provocou devido à ganância, negando-se a ver a realidade circundante, por ignorância ou por inconsciência, porque não há a consciência de que a sua passagem pela Terra-Mater é como um relâmpago, e a indiferença perante o bem comum (a verdadeira herança de filhos e netos seria a saúde da Terra-Mater) foi abrindo os caminhos da perdição.
Na nossa memória ecoa uma comparação com o sol: mais brilhante que mil sóis, que, embora título de um livro de Robert Jungk, nos remete para Hiroshima e Nagasaki e a bomba que matou 200.000 pessoas num instante de suspiro…
O sol escaldante, o vento forte e instável, colocam-nos perante os cenários terríficos dos incêndios (são motivos incentivadores) que devoram o território português. As imagens fazem-nos perceber por que motivo o inferno é fogo.
O sol deste Agosto, de calor em brasa, levou-me ao sol numa digressão de azul e dourado, também de vermelhos infernais e fumos negros. Mas termino com o sol, astro-rei a sorrir no céu azul… Diz-se para aí que querem taxá-lo… Não posso acreditar!

17/08/2016
 

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