20 de abril de 2016

Lopes Mracelo
TRATAR DA VIDINHA

Eles só querem tratar da sua vidinha. Eles só querem continuar a rica , vidinha que tinham enquanto desempenhavam altos cargos da Administrção pública, tratados com reverência por “Excelências”, rodeados de assesores, de seguranças e honrarias, ocupando gabinetes luxuosos, regra geral em palácios.
Em democracia, o exercício de altas funções decorrentes de eleições deveria ter sempre carácter transitório, espírito de missão, de serviço público e visando o interesse colectivo. Ou seja, um cidadão ou uma cidadã que tendo a sua vida profissional se candidata a cargos políticos, pressupõe-se que tem disponibilidade para interromper a sua vida profissional no caso de ser eleito. Enquanto exercer as suas funções de forma transparente e competente tem direito a ser respeitado(a). Mas quando terminar, deve voltar para a sua vida profissional anterior e prosseguir a sua profissão dentro das regras e em condições e tratamento de igualdade com os colegas da sua profissão. A título de exemplo, não se é Ministro(a) ou Deputado(a) para depois alcançar ser mais, ter mais vantagens ou privilégios. Não se é, antes, está-se nas funções, desempenha-se o cargo de forma responsável e transitória.
Infelizmente, não é na transparência e autênticidade que vive a nossa democracia. Instalou-se uma perspectiva de carreira e de “ortopedia” das cadeiras de poder. As costas de suas “Excelências” moldam-se depressa aos cadeirões luxuosamente estofados e dourados. E das cadeiras do poder político passa-se para as cadeiras, os altos ordenados e prêmios de gestão do poder económico e financeiro (e vice versa). O governo e a gestão democrática vão sendo capturados pela mentalidade de tribo que domina os maiores partidos políticos dentro de uma concepção “militar” das carreiras. Isto é, quando se atinge um posto ou cargo, uma vez assumido, já nunca mais se quer recuar, antes se luta para se atingirem os postos ou cargos ainda mais altos. Depois de se estar nas funções de Deputado(a) ou de Ministro(a), entende-se quase sempre que se ganhou o direito ao prêmio duradouro de uma posição pelo menos equivalente em vantagens económicas e privilégios de uma rica vidinha a que tais excelências já se habituaram. Costumam chamar-lhe expectativas legítimas! Mas, legítimadas por quem? Não pela democracia mas, antes, pelo chefe do partido ou dos patrões dos interesses económicos e financeiros capturados, acumulados e circulados de forma escura.
Tomemos o exemplo dos Deputados. O Dicionário diz-nos que deputar é delegar, incumbir, mandar em comissão, designar. Assim, o poder de que estão incumbidos não é próprio, pois é exercido em nome dos eleitores. Então, neste enquadramento, é aceitável que o ex-Ministro das Finanças tenha deixado a cadeira do Governo directamente para a cadeira de alto dirigente do FMI cuja cartilha de medidas ele aplicou com denodo e destinção? É aceitável que a ex-Ministra das Finanças, da cadeira do Governo vá ocupar dois cadeirões: a de Deputada e a de administradora da empresa multinacional de fundos financeiros? Quando ocupa a cadeira de deputada, actuando portanto em comissão, por incumbência dos eleitores, qual é a valorização dos interesses e objectivos em jogo? A dos eleitores ou a do patrão?
Estão só a tratar da sua rica vidinha, dirão alguns a assobiar para o lado ou encolhendo os ombros. Pois é, mas em democracia, não é com assobios ou de ombros encolhidos que se exercita o livre direito e dever de cidadania activa.

20/04/2016
 

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