Fernando Raposo
Virar de página
Antes de ontem, segunda-feira, com a apresentação do Orçamento do Estado, o Parlamento esteve ao rubro. Passos Coelho chegou e disse: O PSD vota contra.
Não se esperava outra coisa. Passos e o PSD, e também o CDS, estão ainda ressabiados por não terem conseguido, nas últimas eleições, uma maioria capaz de acomodar, no Parlamento, a sua política de “austeridade regeneradora” a que sujeitaram, desnecessariamente, a generalidades dos portugueses e cujas consequências são de todos conhecidas.
O Orçamento agora apresentado, da responsabilidade do governo do PS e com o apoio dos partidos à sua esquerda, representa uma ruptura com o passado, colocando todos os portugueses no centro das suas preocupações.
Para que serve a política, senão para servir os cidadãos, mas todos, e não apenas alguns.
Passos anda irritado e o PSD desnorteado por não terem ainda compreendido a nobreza do papel da política e de que no seu exercício todos devem ser incluídos.
António Costa há muito que compreendeu isso. Primeiro na Município de Lisboa e agora no Governo, dialogando e consensualizando com os partidos da esquerda. Podem, atavicamente, designá-los por radicais, mas com eles foi possível desenhar um orçamento que repõe os rendimentos dos portugueses, reduz a carga fiscal, promove o crescimento económico e a criação de emprego e garante e melhora o serviço público. Na educação, na saúde e na protecção social. O Orçamento agora apresentado pelo governo honra os compromissos assumidos com os partidos que, no Parlamento, o suportam e é pautado dentro do quadro constitucional. Coisa que não é, em democracia, de somenos importância e que Passos Coelho, enquanto Primeiro-ministro, subestimou recorrentemente.
Passos e o PSD ainda não assentaram os pés na terra, e persistem em não entender que existem outras alternativas à austeridade, mais amigas dos cidadãos e respeitadoras dos compromissos internacionais.
Passos e o PSD ainda não compreenderam que se iniciou um novo ciclo e insistem teimosamente em não aceitar “virar de página”.
Nunca é de mais recordar que Bruxelas deu voto de confiança a António Costa”, apesar de Passos Coelho rogar aos “Deuses” para que a Comissão Europeia chumbasse a proposta de orçamento. O PSD, o de Passos, claro, ainda fez “figas” por baixo da mesa, mas a coisa não deu resultado.
Ferreira Leite, também do PSD, mas não do de Passos, já veio reconhecer publicamente que neste primeiro embate com Bruxelas, o Governo de Costa saiu vencedor. Também António Capucho, ex-militante do PSD, reconheceu no ETV (Económico TV), que foi “uma grande vitória de Costa que acabou com o aluno subserviente”.
O apoio dos partidos da esquerda ao Governo do PS, vem demonstrar que o chamado “arco da governação” pode ser bem mais amplo, rompendo com o “ciclo vicioso” de mais de 40 anos que, em certa medida, terá, talvez, propiciado muitas das vicissitudes do nosso sistema democrático.
Já que a “austeridade regeneradora” que nos foi imposta por Passos não foi bem sucedida, talvez seja tempo de o PSD se auto-regenerar no sentido de continuara a fazer parte da solução para o país e não do problema. Compete-lhe a ele, em particular aos verdadeiros sociais-democratas, dar esse passo e entender que todos, da direita à esquerda, são necessários para enfrentar os desafios com que todos os dias somos confrontados.