27 de abril de 2016

Fernando Raposo
A MALTA ANDA CHATEADA

À medida que o novelo do “Panamá Papers” se vai desfiando, mais claro se torna quão injustas foram as medidas de austeridade impostas aos portugueses. Enquanto aqueles que dependiam apenas do seu trabalho eram acusados de viverem acima das suas possibilidades e assistiam, impotentes, ao corte dos seus rendimentos, outros davam asas à imaginação para se furtarem ao dever de honrarem os seus compromissos com o Estado.
A fuga ao fisco tem hoje uma expressão incompreensível. De acordo com o relatório do Observatório de Economia e Gestão da Fraude, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, a fuga aos impostos é da ordem dos 46.000 milhões de euros, equivalendo a seis orçamentos para a saúde e correspondendo a 26% do PIB (Diário de Notícias, 13 de Abril). E muito deste dinheiro, que deveria ter entrado nos cofres do Estado, anda por aí, certamente, de offshore em offshore.
Mais do que cortar nos rendimentos do trabalho, impunha-se antes um combate cerrado contra a fuga aos impostos.
A troika tão enérgica a impor cortes nos rendimentos de quem trabalha, nas pensões, na educação, na saúde e na segurança social, agravando a vida de quem mais precisa, deixou que “nas suas barbas”, sob o silêncio cúmplice de quem tinha o dever de proteger os mais fracos, se escapulissem, sabe-se lá para onde, milhões e milhões de euros que levaram à derrocada do BES e, ao que agora se vai sabendo, também do BANIF.
E muito deste dinheiro, que agora está a ser pago por todos nós, foi parar às mãos de muita rapaziada, que, ao que se diz, é gente muito ilustre, e fez o jeitinho aos “donos disto tudo”.
Anda nas bocas do mundo (as notícias correm depressa demais) que o Ministério Público tem na sua posse, há cerca de um ano, uma lista da tal gente ilustre, a quem Ricardo Salgado pagava uns favores. E para que ninguém soubesse e se passasse a “perna” ao fisco, criou, como refere o Expresso do último fim-de-semana, um “misterioso offshore conhecido por «saco azul». Diz-se que esta coisa já remonta ao século passado.
Este tipo de aldrabice, a que Bruxelas fecha os olhos, é um expediente utilizado por pessoas de referência, que ocuparam (e ocuparão) cargos de destaque na nossa sociedade, algumas ostentando mesmo condecorações “por serviços prestados à Pátria”!! Pelos vistos, ainda lhes temos agradecido…
Calcula-se que, desde 2007, o Estado já injectou no sector financeiro português cerca de 13 mil milhões de euros. Tal montante corresponde, segundo o Diário de Notícias (22-12-2005), a 7,3% do PIB e equivale a um ano de cobrança do IVA..
Bruxelas sempre expedita a reparar as falhas de quem deveria ser punido e a impor a transferência do ónus para quem menos responsabilidade tem, não tem qualquer autoridade, moral e ética, para tecer quaisquer reparos a propósito do aumento do salário mínimo nacional ou sobre quaisquer medidas que visem melhorar a vida de todos os portugueses e que em boa hora o Governo de António costa decidiu tomar.
É por todo este ambiente empestado que se tem vivido por cá e na Europa, dita civilizada, que a malta anda chateada.

27/04/2016
 

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