1 fevereiro de 2017

Valter Lemos
O mundo está (mais) perigoso

VÁRIOS TRUMPZINHOS ESPREITAM POR ESSA EUROPA FORA. MAS NÃO SÃO SÓ OS GOVERNOS QUE NECESSITAM DE MUDAR A SUA AÇÃO. SÃO TAMBÉM OS CIDADÃOS.

A primeira semana de governação de Trump parece ter iniciado um terramoto nos EUA, nas relações internacionais, na Europa, na NATO, nas bolsas de valores e no que mais se verá.
É manifesta uma clara má vontade da comunicação social em geral no que a Trump respeita. Como se verifica, por exemplo, pelo facto de não ser dito que o famoso muro com o México já existe em 900 quilómetros, começou no tempo de Bush mas foi continuado por Obama. Mas, não é a evidente antipatia da comunicação social americana e europeia que é a causa dos factos, mas sim o próprio Trump e a sua entourage. Aliás, Trump parece até gostar dessa antipatia porque lhe permite afirmar a dureza e determinação que considera ser essencial na sua postura política e que a história eleitoral parece mostrar que é do agrado do eleitorado que o elegeu.
Do ponto de vista das relações internacionais, a política americana parece encaminhar-se para a tentativa de criação de uma nova relação de forças. Na verdade Trump parece querer uma nova aproximação à Rússia, mas feita à custa de um afastamento da Europa e da China. Quanto a esta, o presidente americano nunca escondeu que queria fazer o realinhamento das respetivas relações económicas. Trump parte de uma análise que é, aliás, partilhada por muitos outros de diferentes áreas políticas, que considera que a principal beneficiada da liberalização do comércio mundial foi a China (e outros países asiáticos) com base numa vantagem muito criticável que é a prática de baixos salários e ausência de direitos laborais e sociais. Mas, à boleia desta análise quer instituir uma política económica nacionalista e protecionista, não só relativamente à China, mas a todos os seus principais parceiros comerciais (México, Canadá, UE, e veremos se o Japão, etc.).
Quanto à Europa o principal alvo de Trump é obviamente o euro e a potencial força que esta moeda tem relativamente ao domínio do dólar no comércio internacional e provavelmente mais importante ainda no comércio da dívida. Enquanto a moeda da expressão da divida for o dólar os EUA podem ser o maior devedor mundial e viverem descansados com isso, pois são eles que fazem as notas!  Assim, Trump aposta na divisão da União Europeia, por isso apoiará todos os nacionalismos porque os mesmos enfraquecem o euro e a força económica da UE.
Mas, para total honestidade de análise é forçoso dizer que a administração Obama já teve, em larga medida, uma política de afastamento da Europa, embora esta também tenha grandes responsabilidades nesse facto.
A política económica externa de Trump parece pois assentar num regresso em força do protecionismo e do nacionalismo. A reação da Europa e da China serão determinantes para o que virá a acontecer. Estes dois blocos poderão aceitar a linha do presidente americano e reagir do mesmo modo e esta forma de ação será eventualmente o triunfo de Trump. Ou, poderão apostar num maior isolamento económico dos EUA o que acarretará custos elevados à, até agora, aberta economia americana.
É talvez por isso que Trump anuncia internamente uma política inversa da que propõe internacionalmente. Vai diminuir os impostos e aumentar o investimento público para aquecer a economia e aumentar o emprego, dado que dependerá provavelmente disso o juízo essencial que os americanos farão da sua política.

A Oportunidade da Europa
A política de Trump, para além da questão económica, dos pontos de vista geoestratégico, ambiental, social e civilizacional parece ter todos os ingredientes para produzir uma regressão mundial. O mundo tornar-se-á mais perigoso.
Mas, crise e oportunidade, são como dizem os chineses, faces da mesma moeda. Contrariamente a muitos que só vislumbram consequências catastróficas para a Europa e o mundo, creio que pode abrir-se uma oportunidade para a Europa renascer e se fortalecer. A segunda metade do século XX foi para a Europa (e os EUA) um tempo de progresso como nunca aconteceu na história da humanidade. As condições e a qualidade de vida dos europeus e americanos cresceram e melhoraram mais do que em centenas de anos anteriores. Mas, a verdade é que ao entrar no século XXI, esses mesmos europeus e americanos que são, de longe, os seres humanos com melhores condições de vida à face da terra em toda a história da humanidade, criaram uma crise (que só pode encarar-se como crise da abundância) e para se livrarem de si próprios geraram as condições para o aparecimento de novos nacionalismos, extremismos, fundamentalismos e tudo o que Trump e outros semelhantes representam.
Com a chegada de Trump ao poder a Europa tem uma oportunidade de ver as consequências dessa atitude e alterar o caminho que tem vindo a seguir. É preciso que os governos europeus alterem, enquanto podem, o que têm vindo a fazer no âmbito das políticas económicas e socias e principalmente de integração e união do espaço europeu. Vários trumpzinhos espreitam por essa Europa fora. Mas não são só os governos que necessitam de mudar a sua ação. São também os cidadãos. É tempo das pessoas perceberem que as posições antipolíticas e abstencionistas mais não são do que as condições adequadas à vitória dos nacionalismos, dos fundamentalismos e dos extremismos.

01/02/2017
 

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