JOÃO BELÉM
		Estimativa: contar sem contar tudo
		A ciência é o melhor instrumento de que a espécie humana dispõe para realizar previsões verificáveis com certo grau de fiabilidade.
Mas como é obvio, a ciência não consegue fazer sempre previsões infalíveis.
Isso depende, em primeiro lugar, do facto de nem todos os objetos analisados serem idênticos, nem deverem ser estudados do mesmo modo. Há fenómenos que podem ser previstos com grande exatidão, outros em que apenas é possível uma previsão aproximada, e outros há que não é possível prever.
Masisto não significa que a ciência não funcione, mas por vezes vemo-nos obrigados a enfrentar situações muito complexas, difíceis de resolver com os instrumentos que dispomos. No entanto, quando não é possível prever algo, podemos formular uma hipótese sobre as probabilidades de que ocorra um facto.
Uma das regras a seguir é a de que a ciência não se pode basear numa única observação, nem num único testemunho.Para obter resultados estatisticamente significativos, é necessário trabalhar com números muito grandes, examinar uma quantidade muito elevada de casos.Por conseguinte, é indispensável reunir resultados percentuais, relativamente ao efeito concreto que se pretende determinar, que sejam superiores, ou mesmo muito superiores, àqueles que se poderiam alcançar com previsões feitas ao acaso.
Quando pensamos em estatística, rapidamente nos vêm à cabeça termos como sondagens eleitorais ou cálculos de percentagem. Mas, na realidade, a estatística ocupa todas as facetas das nossas vidas. Por exemplo, ajuda-nos a desvendar o que os jovens pensam do seu futuro (sociologia) ou qual é o perfil do consumidor dum determinado produto (marketing); aconselha-nos sobre o que podemos fazer para melhorar os nossos processos de produção (controlo de qualidade) ou sobre de quanto em quanto tempo devemos fazer a revisão do motor do nosso automóvel (fiabilidade); informa-nos quanto aumentaram os preços este ano (economia) ou quanta energia elétrica se espera que gastemos quando chegar o tempo mais frio (previsões); guia-nos a decidir se um novo medicamento é melhor de que outro já existente no mercado (medicina) ou diz-nos quais os animais que estão em perigo de extinção (ecologia) ……    
Para nos orientarmos em todas estas complicadas questões, recorremos à inferência estatística, nome que é dado ao processo e ao resultadode extrair conclusõespara um “universo” a partir de uma ou mais amostras dele retiradas. Por “universo” não se entende apenas um conjunto de seres vivos, mas qualquer grupo de estrelas a parafusos; e por “amostra”, um subconjunto dessa coleção. 
Uma das questões básicas que aborda a inferência é a estimativa; determinar uma característica desconhecida de um universo a partir dos dados obtidos numa amostra
Se, no ensino da matemática, se ignorar a estimativa, ensinando-se apenas procedimentos que conduzam a respostas exatas e únicas, ignora-se uma parte da matemática e impede-se os jovens de ganharem experiência e confiança a esse nível. Os pais podem também ajudar os filhos nesse domínio. Com efeito, muitas são as situações do quotidiano em que usamos a estimativa como forma de resolução de problemas, e em que eles podem ser chamados a colaborar.