JOÃO BELÉM
SABER ENVELHECER
Desde sempre o ser humano tem sonhado em encontrar uma maneira de enganar a morte. Está nos nossos genes, visto que lutar para sobreviver é um dos instintos de todos os seres vivos. E mais ainda no nosso caso, pois somos os únicos animais conscientes que dispomos de um tempo limitado neste planeta, o que nos causa um grave problema existencial.
E é precisamente esta inquietação que provoca a necessidade de encontrar soluções para este problema, mas enquanto não compreendermos as causas que desencadeiam o processo não teremos a capacidade de fazer algo a esse respeito.
Por isso passámos a ver o envelhecimento como um efeito secundário irreversível, como o preço a pagar por estarmos vivos e considerar que se trata de uma serie de mudanças bioquímicas e celulares perfeitamente definíveis e quantificáveis e, portanto, evitáveis em teoria.
Enquanto há especialistas que acreditam que não demoraremos muito a ver o primeiro fármaco com verdadeiros efeitos antienvelhecimento, outros pensam que a complexidade do problema impedirá que, faça-se o que se fizer, se encontre uma solução viável para isso.
Após estas considerações anteriormente apresentadas sugiro que analisemos o problema noutra perspetiva.
“Saber envelhecer é a grande sabedoria da vida” segundo o filosofo Henri Amiel e por isso devemos entender que a velhice está implícita na juventude, da mesma forma que a morte na vida.
O segredo do saber envelhecer é conservar a autoestima, continuando a ser interessante para si próprio e para os outros. Amar a vida, as pessoas, alimentar sonhos, ocupar a mente com atividades são excelentes formas de nos mantermos emocionalmente equilibrados.
Envelhecer é um privilégio, uma arte, um presente. Somar cabelos brancos, arrancar folhas no calendário e fazer aniversário deveria ser sempre um motivo de alegria. De alegria pela vida e pelo que estar aqui representa.
Para concluir não resisto a deixar-vos com um excerto de um sábio texto de José Saramago sobre o assunto:
QUANTOS ANOS TENHO?
……….. Tenho os anos que preciso para viver livre e sem medos.
Para seguir sem temor pelo atalho, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus desejos.
Quantos anos tenho? Isso a quem importa!
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e sinto.
Finalizando não se lamente por envelhecer. A vida é um presente que nem todos temos o privilégio de desfrutar. É uma viagem de tropeços, de aprendizagens, de prazeres e de sofrimentos. Por isso, em si mesma, é maravilhosa.