29 de novembro de 2017

Carlos Semedo
CAMPANHA ELEITORAL

Após um interregno de dois meses, regresso a esta casa. Pelo meio, fiz algo altamente improvável, uma campanha eleitoral, na qual acabei por não ser eleito. Coisas boas da democracia. Digo-o com toda a sinceridade, embora o trabalho tenha sido feito para garantir a possibilidade de ajudar, como vereador, a construir um concelho e uma região no qual a Cultura seja cada vez um espaço de construção de pontes e contemporaneidade. Não será como vereador, mas outra forma haverá de poder colaborar.
A minha experiência em campanha eleitoral foi, em quase todos os capítulos, extraordinária. Conheci dezenas de pessoas das quais apenas tinha uma perspectiva muito superficial, lidei com as diversas formas de abordar a militância e tive oportunidade de aprofundar, através da conversa e da prática, a minha ligação a duas mãos cheias de candidatos e militantes. Só esta dimensão vale as semanas nas quais tentei o milagre da multiplicação do tempo, mas não foi a única. Sou um apaixonado pelo território e esta campanha permitiu-me melhorar o meu conhecimento do concelho de uma forma única. Calcorrear tantas ruas, a pé, conhecer recantos surpreendentes e falar com centenas de pessoas é uma oportunidade difícil de enquadrar em outra dinâmica e a campanha eleitoral pela sua especificidade tornou-se um campo de experimentação à qual estou muito grato.
Foi, também, um campo de observação sobre o que muda em algumas pessoas, quando assumimos uma candidatura na área política. Muitos são exuberantes, exclamativos e sonoros no apoio; outros desaparecem, em total mutismo extensivo às redes sociais; há, também, uns poucos que manifestam o seu desacordo de forma pessoal mas, geralmente, sem usar os meios de maior amplificação. O “desaparecimento” e silêncio de muitos é um sinal da sua incomodidade, mas também da falta de coragem. Preferiria que me dissessem abertamente, mesmo que de forma reservada, que não concordam com a minha decisão. Algumas pessoas fizeram-no e muito bem. Onde senti uma grande mudança foi em alguns olhares, que se alteraram de forma sensível. Dir-me-ão que é a proximidade do poder político que transforma o olhar. Acredito que em muitos casos será muito mais o desconhecimento das motivações e perspectivas do candidato, mas isso sou eu, agora, a reflectir no calor do sofá.
Este “laboratório social” também me permitiu olhar para a oposição, feita por pessoas que conheço tão bem como a maior parte das que fizeram parte da minha lista. O meio é pequeno, mas creio que será assim em todo o lado, pois as formas de propagação da imagem e ideias permite uma redução do campo de análise. Ficou-me na memória um conjunto de situações nas quais nos cruzámos com a caravana de outros candidatos com toda a naturalidade e, em alguns casos, com troca de cumprimentos e até alguma efusividade e brincadeira. Neste campo, creio que a nossa democracia já deu passos muito seguros.
Para terminar, respondo a uma pergunta que já me fizeram algumas vezes: repetias a experiência? Voltavas a ser candidato? Sim, voltava, o saldo é claramente positivo e a partir do momento no qual entramos num espaço público de construção, devemos equacionar todas as formas pelas quais podemos melhorar a nossa contribuição. Esta pode ser uma.
Pronto, está explicado porque é que não escrevi nos últimos tempos na Gazeta do Interior. Sendo candidato, não me pareceu correcto e sinto que tomei a decisão certa.

29/11/2017
 

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