20 de junho de 2018

Maria de Lurdes Gouveia Barata
A MALEDICÊNCIA

Eles andam por aí, sub-reptícios, sinuosos ou até descarados com o atrevimento de que já os conhecem e não vale a pena disfarçar… Têm manha, digo isto, mas não gosto de falar da vida de ninguém, parece que há mais, logo se saberá, eles foram aqui ou ali, algum significado tem… São azedos, devido ao descontentamento da própria vida, sublimam-se falando dos outros, sempre mal, inventando sobre os outros, manipulando ouvintes, insidiosamente instalando dúvidas. De um pequeno incidente, em que pode haver só um pouco de reprovável, enchem um balão de suposições, tocam a integridade de alguém, ficam contentes se a semente da suspeita germina… Dão-se a importância de saber sobre pessoas coisas que ninguém sabe. São os maldizentes de tudo e de todos, amargosos, rancorosos, despeitados, invejosos e ressentidos. São uns insignificantes a dar-se importância, porque a maledicência chama por vezes a atenção sobre si próprios. Na verdade, têm um certo poder, porque beliscam (ou destroem) com a desconfiança que instalam. Dizia Bossuet que «uma das causas capitais da maledicência é a inveja, causa vergonhosa que não se confessa, mas que transpira do modo de proceder. Sob qualquer aspecto que a maledicência se mostre, temei-a como serpente».
O boato nasce frequentemente daí e pega-se se os maldizentes utilizam tácticas manipuladoras. Às vezes, não são pessoas isoladas que andam por aí a semear maledicência, às vezes são órgãos de comunicação social que procuram o sensacionalismo e os consumidores manipulados tomam gosto pelo sabor picante e activo dum centro de conversa que se anima e excita.
A táctica dos maldizentes é desleal por enganadora, tendo em vista a manipulação da opinião para um domínio a favor de interesses mesquinhos. A linguagem, como grande dom do homem, pode ser risco de perigo. É cristal? mas também se torna punhal, como diz Eugénio de Andrade, num jogo de Bem e Mal, difundindo a verdade ou a mentira, tornando-se detracção e difamação. E ei-la bola de neve…
Quando o Papa Francisco esteve no Bangladesh nos finais de 2017 designou a maledicência de terrorismo: bisbilhotar e falar mal dos outros é como fazer terrorismo. O Papa afirmou que tal é “terrorismo”, porque o que vai falar mal dos outros não o diz publicamente, tal como o terrorista não o diz publicamente. Aquele que vai falar mal dos outros fá-lo às escondidas. Atira a bomba e vai-se embora e a bomba destrói tudo e ele vai tranquilamente colocar outras. O Papa pediu também aos religiosos na Igreja de Santo Rosário em Daca, no seu último dia de visita ao Bangladesh, que “tentem pedir e ter espírito de alegria” porque “sem alegria não se pode servir Deus”, e criticou padres ou freiras “com cara de vinagre”, que parece que “tomaram vinagre ao pequeno-almoço”. E os maldizentes também são envinagrados…
Maldizer traz intenção declarada de prejudicar, carregando a hipocrisia de ser denúncia, quando deparamos com certas lutas contra adversários, sejam partidárias, clubistas ou profissionais. Serpentes que se enrolam e desejam um estrangulamento…

20/06/2018
 

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