20 de junho de 2018

Lopes Marcelo
PAUTAS DA TRADIÇÃO

Na valorização da auto-estima das nossas populações, em afectuoso convívio entre gerações, é fundamental partir-se da memória e experiência de cada pessoa para a reconstrução da memória colectiva.
Hoje, num mundo aberto e de comunicação global, importa aprofundar e valorizar o sentimento de pertença realimentado no rio da sabedoria popular onde vibram as pautas das nossas tradições e em que mergulham as raízes da nossa Identidade cultural.
A Identidade está intimamente ligada á noção de património, entendido como memória colectiva, fruto da tradição que sedimentou o percurso criativo de sucessivas gerações. Cada pessoa sentir-se á mais filha da sua terra na medida em que vivenciar a magia e a sabedoria dos rituais e dos valores, através dos quais a sua identidade é alimentada e revisitada, assumindo novos testemunhos e dando exemplos junto das novas gerações. Não basta herdar a tradição e a história, nem é suficiente arquivá-las. Há que revisitá-las e usufruí-las de forma a preservá-las.
Num processo de pesquisa através do diálogo e de trabalho em equipa, de próximidade com as pessoas mais idosas, podemos considerar como principais objectivos, os seguintes:
. Passar da memória individual à valorização da memória colectiva, numa relação de afectos e de partilha de valores;
. Divulgar e interpretar as bandeiras culturais que nos caracterizam e diferenciam, como genuínos cuidadores da memória.
. Estabelecer fortes laços de convívio social e cultural, na partilha da herança cultural comum, pela vibração do sentimento de pertença à mesma cumunidade;
. Valorizar as marcas identitárias do nosso território que foi sendo humanizado ao longo de sucessivas gerações;
. Registar e salvaguardar o património cultural, designadamente o imaterial transmitido oralmente. As novas tecnologias não são em si mesmas inimigas das tradições, mas antes, podem contribuir e facilitar a sua preservação e divulgação. O processo de recolha e o suporte do registo têm que ser neutros, respeitando o método e os objectivos, de modo a salvaguardar a autenticidade e a originalidade dos valores e dos conteúdos das mensagens;
Devolver à comunidade os resultados, em afectuoso processo de partilha, visando a valorização e a apropriação colectivas.
Como moldura, sempre presente e fundamental, realça-se a atitude de respeito pelas pessoas, por cada pessoa concreta, pela sua própria voz, dando a maior atenção ao registo das expressões orais, atendendo-se ao espírito do lugar, ao enquadramento e moldura simbólica e ao entorno social que enquadram os testemunhos e as experiências de vida.
Com clareza e transparência de objectivos, sensibilidade e autênticidade na recolha, poderá ser salvaguardado em cada comunidade um riquissimo mosaico de histórias, expressões, ditos, cantigas, rezas, adivinhas, jogos e folguedos ligados ao saber fazer e aos usos e costumes que se transmitiam à lareira nos serões, se cantavam enquanto se realizavam os trabalhos no campo e se dançavam no terreiro e ruas das nossas aldeias. Assim se dê a devida importância às raízes da nossa identidade, enquanto é tempo de podermos escutar as vozes sábias dos nossos idosos já que, inevitavelmente, nos irão deixar. Depende da nossa atitude, se culturalmente mais ricos ou mais pobres.

20/06/2018
 

Em Agenda

 
29/05 a 12/10
Castanheira Retrospetiva Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2023

Castelo Branco nos Açores

Video