4 de julho de 2018

Carlos Semedo
CRÓNICA INACABADA DE UM FESTIVAL

Há cerca de duas semanas foi tempo de estar perto da Gardunha, essa serra fronteira, convite à passagem e sopro de identidade para a região. Foram dois dias de trabalho intensos, na freguesia de S. Vicente da Beira, acompanhando o Festival Água Mole em Pedra Dura.
Contadores de histórias, pequenos concertos, conferência, baile, mimos, estátuas vivas, passeio pedestre, concerto na igreja matriz, uma peça de teatro e encontros da imagem foram algumas das actividades propostas, ao longo de quase 32 horas de Festival. Comecemos pelo nome. A água e as pedras são elementos centrais da paisagem de S. Vicente da Beira, a persistência é uma das características das gentes que, ao longo dos séculos, viveram nesta região, exigente no clima e na orografia. As primeiras referências conhecidas da expressão água mole em pedra dura, tanto bate até que fura, remontam a Ovídio e é conhecida e documentada a presença romana nesta zona, o que reforça a ligação identitária do nome do Festival ao território.
Quando uma iniciativa conta com a participação de contadores de histórias da qualidade do Jorge Serafim, Miguel Horta e Ana Sofia Paiva, as possibilidades de sucesso são muito elevadas, mas o que se passou nestes dois dias, ao pé do magnífico pelourinho, no alpendre do futuro Museu de Arte Sacra e no Salão Nobre da Junta de Freguesia, ultrapassou em muito as melhores es-pectativas, pelo menos as minhas. Ver grupos de pessoas das mais diversas idades a escutar e participar nestas sessões com um interesse crescente foi um dos primeiros sinais de que este Festival tem futuro. Em três das sessões, tivemos a colaboração de alunos da Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco, que realizaram micro concertos de grande qualidade. Atrevo-me a destacar a participação do guitarrista João Vaz, aluno de Custódio Castelo, que deixou o público a suspirar por mais.
O Encontros da Imagem, coordenado por Carlos Matos, reuniu dezenas de fotógrafos e desenhadores, os quais, ao longo dos dois dias, visitaram as aldeias anexas e S. Vicente da Beira, daí resultando uma exposição que foi inaugurada no sábado, mas que foi actualizada ao longo do domingo. Alguns destes participantes visitaram pela primeira vez S. Vicente da Beira e a sua experiência foi, nas palavras dos próprios, excelente.
O concerto pelo grupo Sopa de Pedra, na igreja matriz, foi antecedido por uma coreografia de fogo, pelo grupo do Chapitô, realizada no adro e foi o prelúdio perfeito para uma imersão na polifonia tradicional que o grupo vocal feminino nos apresenta, num concerto exigente tanto para os intérpretes como para o público. Nessa mesma noite, seguiu-se o baile, que durou até às 4 da manhã.
Menos de três horas depois, o fabuloso amanhecer na Gardunha, teve uma sonoridade particular com o saxofone do João Pedro Silva e o acordeão do Pedro Santos. No final de uma das peças de Jorge Salgueiro, o som dos pássaros aumentou de volume subitamente, como que a dizer continuem, continuem… Nas nossas costas, o sol abraçava-nos lentamente. Foi um concerto que, de certeza, deixou marcas no público presente.
Muito mais poderia escrever sobre este fim-de-semana, mas fico por aqui, referenciando o antigo professor e ex-presidente da Junta de Freguesia, que me disse que para o ano, há apenas 5% a melhorar, pois o Festival conquistou as pessoas da vila e as que a visitaram.

04/07/2018
 

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