João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
MUITO ESPETADOR TERÁ FICADO CHOCADO com os depoimentos e experiências de vida que foram apresentados no programa da semana passada Prós e Contras, da RTP1, sobre os cuidadores informais. E foi tema de conversa obrigatório nos dias seguintes, o que vem provar que as nossas televisões deveriam dar bem mais espaço à discussão de temas sociais do que intermináveis e inenarráveis discussões sobre futebol e os brunos de carvalho deste país. Ficámos a conhecer um pouco da vida nos limites da pobreza, do cansaço físico e, sobretudo, psicológico, de tantos milhares de portugueses, em especial portuguesas, que deixaram os seus empregos, quantas vezes sustento da família, afastaram-se de uma vida social básica, deixaram de usufruir de férias, idas ao cinema ou passeios, para se dedicarem em exclusivo aos cuidados de filhos, maridos, esposas e outros familiares doentes ou sem autonomia, porque o nosso estado social não dá resposta à grande maioria destes problemas, sendo por isso causador de situações de exclusão gravíssimas, e com um apoio económico que de tão baixo, apetece qualificar de ridículo. E são mais de duzentos mil os cuidadores informais a tempo inteiro em Portugal. Segundo um estudo encomendado pelo próprio governo o valor económico das horas de trabalho que os cuidadores, a tempo inteiro ou não, despendem rondará os 300 milhões de euros mensais. Um valor significativo, mas inferior ao que o estado teria de gastar se estas 800 mil pessoas dependentes, fossem institucionalizadas. A promessa de ajudas já rola há tempo de mais. Para o próximo orçamento, o governo de António Costa inscreveu a promessa de ir ponderar ao longo do ano as medidas de apoio social que visem dar resposta aos anseios destes milhares de portugueses que merecem a nossa solidariedade. Que não seja necessário mais um programa de Prós e Contras, para despertar mais uma vez as nossas consciências adormecidas.
VAI POR AÍ UMA AMBIENTE DE TOURADA QUE SÓ VISTO. Tudo por causa do IVA sobre o espetáculo taurino, discriminatório em relação a outros espetáculos. E até já há quem veja nisto tudo um caminho para a proibição. Tudo começou com a carta aberta de Alegre a Costa, com direito a resposta, e continuou com a inusitada proposta de IVA reduzido apresentado pelo líder parlamentar do PS, Carlos César, à revelia do primeiro-ministro, que se viu obrigado a fazer a sua pega de caras. Claro que a proposta está condenada ao fracasso, com a bancada dividida, claro que ninguém vai proibir as touradas e claro que, para desgosto dos comentadores televisivos, amanhã já ninguém falará do assunto. A mim estranha-me mais a descriminação de IVA entre espetáculos de teatro, musicais ou outros ao ar livre e em recintos fechados. Quanto ao resto, como na canção do Tordo e do Ary, Nós vamos pegar o mundo / pelos cornos da desgraça / e fazermos da tristeza / graça. E entra muito dólar muita gente / que dá lucro as milhões. / E diz o inteligente / que acabaram as canções. (Não acabaram as canções como não vão acabar as touradas, não senhor, mesmo que eu como muitos outros nunca tenham entrado numa arena)