João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
PORTUGAL AMEAÇA TORNAR-SE CADA VEZ MAIS NUM PAÍS DE TRAGÉDIAS ANUNCIADAS. Foram os incêndios do ano passado que eram vistos até então como uma inevitabilidade, uma normalidade da época, até ao momento em que as dimensões da catástrofe foram de tal forma dramáticas que as autoridades, os especialistas e a sociedade civil não tiveram outro remédio que refletir e atuar, se da melhor maneira, a seu tempo se verá, sobre o problema. Há muito tempo que especialistas anunciam o desastre se a zona de Lisboa for afetada por um sismo de alguma intensidade, porque a grande maioria das casas não está tecnicamente adaptada a uma região sísmica. E apesar de se saber isso, a grande e positiva onda de recuperação de casas em Lisboa, continua a fazer-se sem implementar as tais medidas técnicas capazes de minorar os efeitos de um abalo sísmico. Esperemos que uma catástrofe assim nunca venha a acontecer, ainda que estatisticamente seja provável. Nessa altura, depois de contabilizar os prejuízos e os dramas humanos, é que se irão tomar as decisões definitivas sobre o assunto, há de aparecer algum novo Marquês de Pombal. E o que aconteceu em Borba, não foi também ela uma tragédia anunciada? Há anos que se alertava para os perigos que acarretavam aquelas pedreiras abertas e exploradas até mesmo, mesmo, à beirinha da estrada. Até já havia uma estrada alternativa. Mas quem devia tomar a iniciativa de fechar aquela estrada, ficou à espera que nada acontecesse. Voluntariamente ou obrigado por uma qualquer fiscalização, aquela estrada por onde passavam diariamente muitas dezenas de viaturas e mesmo transportes escolares, teria de estar fechada há muito tempo. Agora o que se vai fazer? Chorar os mortos, aguentarmos até nova tragédia, horas e horas de diretos televisivos e debates sobre quem serão os responsáveis, objetivos e subjetivos, sugestões de demissão, e como seria bom de adivinhar, vamos ter finalmente uma fiscalização a todas, mesmo todas, as pedreiras da região. Com um prazo de de 45 dias para apresentar resultados, não vá o Diabo tecê-las.
UM DOS ACONTECIMENTOS DA SEMANA foi sem qualquer dúvida a visita de estado do Presidente de Angola, João Lourenço, a Portugal. Um evento que marca claramente o reencontro e o regresso a um caminho comum entre os dois países irmãos. A primeira desde há quase dez anos e a raridade ainda reforça mais o significado desta visita, passado que foi o período marcada pelo tal “irritante” que ameaçava azedar as relações entre os dois países da lusofonia. A visita acontece numa altura que novos ventos de democracia e transparência sopram em Angola, quando João Lourenço assume a luta contra a corrupção e a oligarquia instalada no poder. Se João Lourenço tiver força suficiente para levar avante, sem grandes convulsões políticas, os seus ideais, será bom para o povo Angolano, como será bom para Portugal, já que Angola é para mais de seis mil empresas um dos principais destinos das suas exportações e com mais de 400 empresas portuguesas a investirem muitos milhões num país com imensas potencialidades e onde muitos milhares de Portugueses, apesar da crise económica angolana, procuram melhorar as suas condições de vida.