Fernando Raposo
A PROPÓSITO DO CENTRO DE EXPOSIÇÕES DO NERCAB E A “VENDA DE PECHISBEQUE”
A conclusão do edifício do Centro Empresarial do distrito de Castelo Branco, conhecido, entre nós, por NERCAB – Associação Empresarial da Região de Castelo Branco, data do início da década de 90 do século passado. Como o tempo passa!...
Fora construído para um fim nobre.
A sua construção tivera o apoio financeiro do PEDIP (Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa). Não será demais lembrar que este programa teve como principal objectivo “dinamizar o crescimento sustentado da competitividade das empresas portuguesas…” Um fim nobre.
O Município de Castelo Branco disponibilizara, à época, os terrenos necessários, com cerca de 2,5 hectares, junto à zona de lazer.
Tendo em conta os fins e a missão, O NERCAB, agora designado por AEBB (Associação Empresarial da Beira Baixa), foi declarada, em 1991, como associação de utilidade pública sem fins lucrativos. Ao longo dos anos, a área edificada foi aumentando, tendo sido inaugurado, em 2005, o novo Centro de Exposições e Eventos, que mais tarde, em 2010, recebeu o nome de Benjamim de Oliveira Rafael. Homenagem simples, mas merecida. Nessa homenagem, entre a gente que se associou, estavam os mais altos dignitários do concelho.
A área expositiva da agora Associação Empresarial não é despiciente. De acordo com a informação disponível, a área total é de cerca de 8.000 metros quadrados. Com o passar do tempo, o Centro de Exposições foi perdendo actividade, deixando de cumprir as funções para que fora construído. Aquilo que poderia e deveria ser um instrumento de alavancagem da actividade empresarial tornou-se um “fardo” pesado para a AEBB.
Admitindo que os custos de manutenção e encargos decorrentes da sua construção, constituam um esforço muito significativo, senão mesmo insustentável, a solução recentemente encontrada (certamente como último recurso) pode até merecer alguma compreensão.
Não posso, contudo, deixar de questionar se, antes desta solução, não foram equacionadas outras possibilidades que melhor salvaguardassem os fins daquele equipamento e os interesses da cidade e da região.
Tem de ser pouca, mas muito pouca, ou talvez nenhuma, a imaginação de todos aqueles que decidiram fazer deste pedaço de território interior o seu futuro.
A conclusão que decorre da solução encontrada para o Centro de Exposições denota a falta de cooperação entre os diferentes agentes e instituições da cidade e da região. Todos querem ser donos do seu “quintal”, mesmo que seja, desculpem-me a expressão, um pequenino “cagadouro”. Não somos capazes, nós, que todos os dias lançamos farpas aos sucessivos governos por não “olharem” pelo interior, de fazer um pequeno esforço para nos entendermos. Hipocrisia, apenas hipocrisia, porque o que interessa é o nosso protagonismozinho, o nosso tempinho de antena para pavonear a gravata, esse pedaço de atilho que trazemos pendurado ao pescoço.
O futuro, nosso e dos vindouros, que se lixe!...
Se entendimento houvesse, julgo que seria possível dar destino mais digno ao Centro de Exposições Benjamim Rafael do que o de uma “venda de pechisbeque”. Por exemplo, poderia acomodar as escolas profissionais dispersas pela cidade (ETEPA e INETESE) e até a ACICB - Associação Comercial, Industrial e Serviços de Castelo Branco. Assim todos se entendessem.
Nada me move contra o comércio chinês, mas à medida que percorro as principais artérias da cidade, deparo-me com inúmeras superfícies comerciais que me transportam para um espaço e cultura distantes, como se Macau aqui ao lado ficasse.
Agora que o Centro de Exposições se foi, não faltará gente ilustre que, em época de eleições, prometerá espaço maior do que aquele, talvez um Multiusos. Depois da construção seguir-se-á a inauguração com os altos dignitários da cidade. E quando a factura vier, deitar-se-á mão do mesmo expediente e abrir-se-á nova “venda de pechisbeque”.