13 de fevereiro de 2019

José Dias Pires
DIA MUNDIAL DA RÁDIO E DAS PALAVRAS DITAS

O Dia Mundial da Rádio celebra-se a 13 de fevereiro. Para quem, como eu, gosta de “ouver” (ouvir para ver), esta é uma data que importa celebrar. A rádio faz-nos companhia: de manhã é o pássaro madrugador que nos acorda, e à noite é o gato ronronador que nos aconchega o sono.
Apesar de todos os outros, a rádio continua a ser o meio de comunicação social que atinge as maiores audiências, seja como ferramenta de apoio ao debate e à comunicação, instrumento de promoção cultural ou recurso indispensável em casos de emergência social.
Servimo-nos dela sem ser necessário que interrompamos as nossas atividades ou lhe dediquemos atenção exclusiva. Cantamos com ela, sorrimos com ela, indignamo-nos com ela, tal é a força de tudo o que nos oferece: música, palavras, distração ou informação.
Nacional ou local, a rádio tem nas palavras ditas a responsabilidade acrescida de não trair as palavras bem escritas.
Na verdade, a fala e a escrita são a memória da humanidade. Pode falar-se do que já não está, e fazê-lo estar: uma ave, uma paisagem, uma mulher (que é ambas ao mesmo tempo) vistas num distante algures, chegam-nos aqui numa conversa, num texto. Ao «ouvermos» uma destas palavras, «reapresentamos» à memória o que estava. Faladas, escritas, desenhadas, as palavras não são as coisas, são representações.
Pois é, as palavras são instrumentos de comunicação, e o dilema da escolha de como as apresentar é tão antigo como o tempo.
O antigos mestres quase não escreveram, desenvolveram o seu pensamento através do diálogo. Acreditavam que as suas questões conduziam quem os ouvia ao conhecimento ? maiêutica, parir, parto das ideias.
A propósito de parto, imaginem-se meninos. Por favor, imaginem-se meninos. Meninos mesmos. Meninos do «era uma vez, no antigo país das fábulas.» Meninos com pai e mãe e (principalmente) um avô, esse sim muito velho, de mãos trementes, que deixava cair a comida da boca, que sujava a toalha e o chão, apesar do pano de cozinha atado ao pescoço e a servir de guardanapo. Avô que contara estórias e que agora mal podia com as palavras ditas e quase não conseguia “ouver” com a rádio, a telefonia, nas suas palavras antigas. Avô que, antes de todas as refeições de mesa, olhava com olhar de cão velho para a porta da rua com medo que uma das suas narrativas se tornasse real. Com a rádio, desde muito pequeno, aprendi que percorrer demoradamente os caminhos não é o mesmo que caminhar devagar. A mandriice (por andar muito devagar) é facilmente apanhada por todos os vícios, e a demora (por ser cuidadosa) pode ser o tempo de atenção que antecede o amor (e a verdade da escrita, mesmo quando se mente).
Com a rádio descobri que duvidar é viver, e enganar-se existir. «Não temas, muda de ideias sempre que estás mais informado», ouvi uma vez e nunca mais me esqueci.
Hoje sei que se quero conhecer uma pessoa, não lhe pergunto o que pensa mas sim o que ama. Depois, se precisar de uma mão amiga, recordar-me-ei que tenho duas.
Parece poesia? É apenas a antecâmara da amizade e do companheirismo que antecede a paixão e a completa, em livre arbítrio, como nos dias da rádio ? das palavras ditas.

13/02/2019
 

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