Edição nº 1663 - 4 de novembro de 2020

Valter lemos
40 ANOS DO IPCB

Após uma primeira tentativa interrompida da chamada “Reforma Veiga Simão”, a rede de ensino superior politécnico foi criada através do DL 513T/79 de 26 de dezembro, numa maratona legislativa final do efémero governo Pintassilgo, a que, assim, o ensino superior e o país tanto ficaram a dever.
Nessa rede foi criado o Instituto Politécnico de Castelo Branco, integrando a Escola Superior Agrária e a Superior de Educação. As primeiras comissões instaladoras destas duas escolas foram empossadas em 28 de outubro de 1980. Mais tarde, quando da elaboração e aprovação dos primeiros estatutos foi este o dia consagrado como dia do IPCB, porque constituiu o primeiro passo da implementação concreta do mesmo.
As atividades de formação começaram em 1983 na ESACB e em 1985 na ESECB. Estas escolas têm, pois, mais de 35 anos de atividades de formação tendo diplomado já mais de 10 mil profissionais.
A instalação do IPCB e das suas escolas decorreu durante cerca de 15 anos, sob a presidência do Prof. Pinto de Andrade. Tive o privilégio de ter integrado a comissão instaladora da ESECB de 1985 a 1996 sob a presidência do Prof. Figueiredo Martinho. Durante o período de instalação foi criada mais uma escola: a Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTIG), cujas atividades formativas se iniciaram em Idanha-a-Nova, num acordo de cedência de instalações com a Câmara Municipal, presidida por Joaquim Morão.
Em 1996 tive a honra de tomar posse como primeiro presidente do IPCB eleito nos termos estatutários, tendo sido reeleito em 1999 e em 2002.
Foi felizmente um período de forte crescimento do IPCB. Em 1997 a Escola Superior de Tecnologia e Gestão foi transformada em duas escolas autónomas: A Escola Superior de Gestão de Idanha-a-Nova e a Escola Superior de Tecnologia de Castelo Branco. Em 1999 o governo aceitou finalmente a proposta que apresentei de criação da Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART), criando-se uma escola que, ainda hoje, tem um perfil único no ensino superior português.
Em 2001 o governo aceitou também a criação da Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias, a qual foi também a primeira no país a incluir a enfermagem (por integração da Escola Superior de Enfermagem) e as tecnologias da saúde, modelo que veio depois a ser seguido por diversas instituições.
Também nesses anos se construíram mais duas residências de Estudantes, uma em Idanha-a-Nova e outra em Castelo Branco juntando-se às duas que já existiam.
Para instalar as novas escolas a Câmara Municipal de Castelo Branco cedeu ao IPCB um vasto terreno no sítio da Talagueira, junto à EST, permitindo equacionar a construção de um campus alargado. Para tal foi feito um concurso internacional de ideias incluindo no campus as instalações definitivas das escolas. Estas vieram a ter lugar nos anos seguintes, mas, infelizmente, devido a falta de financiamento o campus nunca foi completamente concluído e as próprias instalações da ESART tiveram de ser comparticipadas pela Câmara Municipal para serem construídas.
No início do século o IPCB havia triplicado o número de estudantes, tendo atingido os cinco mil e quinhentos, tornando-se num polo dinamizador da região atraindo estudantes de todo o país.
Foi um privilégio conduzir os destinos do IPCB durante esse período. Com grande dinamismo interno e com a inestimável colaboração das Câmaras Municipais de Castelo Branco e de Idanha-a-Nova, designadamente do presidente Joaquim Morão, o IPCB afirmou-se como uma leading institution em várias áreas. Note-se que a excelente relação entre o IPCB e a Câmara Municipal que muito ajudou ao desenvolvimento da instituição nunca, no entanto, se transformou em qualquer movimento de “municipalização” da mesma. Sempre acentuei que a autonomia e independência do IPCB era uma condição essencial à afirmação do mesmo e Joaquim Morão, ao contrário de outros, sempre percebeu isso e agiu em total consonância.
Por variadas razões, entre as quais os brutais cortes orçamentais durante a crise financeira e alterações à política de ensino superior, os politécnicos sofreram sérias adversidades na segunda década do século. O momento que o IPCB vive no presente não apresenta, pois, o dinamismo anterior. Houve, no entanto, durante a última dúzia de anos, um enorme esforço de qualificação do corpo docente, tendo o número de doutorados aumentado de forma exponencial, havendo escolas, como a ESECB, em que a percentagem de professores permanentes doutorados atinge 85%, mas, tal esforço não tem hoje correspondência no dinamismo interno e externo da instituição, apesar do empenho que, não duvido, terão todos os seus dirigentes.
Também os estudantes colocados pelo concurso nacional de acesso ao ensino superior têm vindo paulatinamente a diminuir. Em parte, são substituídos por alunos dos novos cursos técnicos superiores profissionais (CTESP), numa estratégia política de acentuar a diferença entre o ensino universitário e o politécnico, aproximando este de uma tipologia de escolas profissionais pós-secundárias.
Referenciam-se também hoje os estudantes internacionais como um meio para a afirmação do IPCB e de outros politécnicos. Ora a realidade tem vindo a mostrar a falácia de tal objetivo. Em primeiro lugar, quase todos os estudantes são provenientes dos PALOP e alguns do Brasil, apresentando muitos deles preparação deficiente e dificuldades socioeconómicas significativas, sobrecarregando a ação social escolar e apresentando baixas taxas de conclusão dos cursos e, em segundo lugar, uma grande parte dos inscritos acaba por não concretizar a sua vinda, sendo ilusórios os números que têm sido apresentados pelas instituições.
Nestas circunstâncias, com objetivos difusos e opacos, motivações nebulosas e procedimentos equívocos, de legalidade duvidosa e contra o parecer de quase todas as escolas, o Conselho Geral do IPCB aprovou uma reestruturação que, numa postura de destruição criativa pós-moderna, desestrutura todas as escolas (talvez à exceção da Escola Superior de Saúde, precisamente a única que se pronunciou favoravelmente) para pretensamente criar outras.
Nunca tive uma visão imobilista das instituições, mas, em tais condições, não vislumbro, ainda que o deseje, no curto e médio prazo, um futuro melhor que o passado.

04/11/2020
 

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